quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Os 13 melhores livros que li em 2013


AVISO:
Sim. Eu sei que organizar listas é uma atividade fútil e na grande maioria das vezes sem qualquer propósito, mas eu vou fazer assim mesmo.

AVISO 2:
Não. Eu não sei por que estou fazendo isso. Eu tenho uma vaga ideia do motivo que nos leva a abarrotar a internet com informações não solicitadas e de maneira geral irrelevante, mas esta é uma ideia que pretendo desenvolver em outro post e por enquanto vou seguir fazendo listas simplesmente porque esta é uma atividade muito mais fácil que brisar sobre o motivo que me leva a manter este blog.

AVISO 3:
Este é um daqueles posts com mais imagens que ideias, então aproveitem
(ou não)

E dito isto eu estou apta a declarar ao mundo os 13 melhores livros que li em 2013

O Melhor da Super
É, eu tenho total e plena consciência da overdose de nerdice que é um livro reunindo as melhores reportagens dos 25 anos da Superinteressante, mas o troço é realmente interessante (pra dizer o mínimo). Além disso, este livro virou uma espécie de farol de nerds, sempre que estava lendo este livro na loja aparecia alguém pra comentar “Super? Muito bom” e a partir daí a nerdice corria solta.
Por todo aprendizado, brisa e constatação de vida inteligente em Guarulhos, o livro valeu cada centavo.


A Queda
“Sim, eu morria de vontade de ser imortal. Eu me amava demais para desejar que o precioso objeto de meu amor desaparecesse para sempre.”


Albert Camus (pronuncia-se “Kamy”) já tinha entrado para a minha lista de “autores que eu quero ler mais” com O Estrangeiro, aí bastou ler a primeira linha da sinopse de A Queda (“Um advogado francês faz seu exame de consciência num bar de marinheiros, em Amsterdã.”) para o “querer” virar “preciso”.

 O livro é bem curtinho, só 111 páginas, mas em apenas 111 páginas Camus faz mais do que muitos autores sonham fazer.
         
E talvez eu até pudesse usar o argumento de Camus para justificar o porquê de fazer esta lista, mas isso seria canalhice demais (ou não?).

“Não somos todos semelhantes, falando sem cessar e para ninguém, sempre confrontados pelas mesmas perguntas, embora conheçamos de antemão as resposta?”
         

O Príncipe da Nevoa
Eu já disse algumas vezes que Carlos Ruiz Zafón poderia escrever um livro sobre uma sala vazia e ainda assim o livro seria excelente, porque ele encontraria algum mistério assombrando as vigas do teto ou os cantos da sala, alguma história mal resolvida sobre as tabuas do assoalho, combinaria as palavras certas para falar sobre a luz do sol entrando pelas vidraças empoeiradas e as sobras que elas geram e no meio disso ainda acharia um jeito de matar um personagem e nos devastar. Alguém comentou que certo texto era “quase comestível”, e esta é uma boa definição para a maneira como Zafón escreve, a forma como ele conta a história é tão genial quanto a história em si.
Este ano li dois livros deste cara: O Principe da Névoa e O Palácio da Meia-noite. Gostei mais do primeiro, que mesmo não sendo o melhor do Zafón ainda assim é excelente.


A Arte de Viajar
“Ficamos tristes em casa e culpamos o tempo e a feiura dos prédios, mas na ilha tropical aprendemos (depois de uma discussão num chalé, sob um céu azul imaculado) que as condições climáticas e a aparência de nossa morada jamais serão capazes, por si só, de escorar nossa alegria ou nos condenar à infelicidade”.


Já brisei sobre este livro aqui no blog, então vou deixar a preguiça prevalecer e só colocar o link da brisa no lugar onde eu deveria falar alguma coisa do livro.
Interessados, favor clicar AQUI.


O Azarão, Bom de Briga e A Garota Que Eu Quero


Se você já leu A Menina que Roubava Livros então sabe do que Markus Zusak é capaz.
Quando eu terminei de ler a trilogia dos irmãos Wolfe a minha vontade era abraçar o Markus Zusak, e eu nunca antes quis abraçar qualquer autor (na maior parte do tempo minha vontade é drenar o talento e as ideias dos autores que eu leio para o meu cérebro). Poucos personagens são tão humanos e tão fáceis de amar justamente devido às suas falhas e agonias quanto o Cameron, e em cada um dos livros isso fica melhor (ou pior).

Comentário completamente aleatório e fora de propósito: quando eu vi o clipe de Royals da Lorde, não pude evitar uma “comparação” (por falta de termo melhor) com o Bom de Briga. Agora toda vez que escuto a música me lembro do Cameron e do Rube.




Pedaços de um Caderno Manchado de Vinho

“Os gênios são aqueles capazes de dizer algo profundo de maneira simples. Palavras eram balas, raios solares, palavras eram capazes de romper o infortúnio e a danação.”

Bukowski é um daqueles autores que qualquer coisa que você falar sobre não vai ser o suficiente e você ainda corre um risco muito sério de falar bobagem. Então vou me limitar a dizer que o velho safado, bêbado e fodido tem o poder de evidenciar o que há de mais sagrado e elevado com sua poesia assim como também consegue esfregar na nossa cara toda a miséria que nos rodeia, e nos dois casos a experiência é válida.


Divergente e Insurgente
Todo mundo ama distopias. A gente adora ver o povo se lascar em escala global e sofrer comendo o pão que o governo totalitário amassou. E é desnecessário dizer que Veronica Roth sabe usar muito bem essa nossa ânsia sádica pra nos prender à história de uma sociedade organizada em facções.
Nem vou me estender muito pra não correr o risco de ter um ataque de fã, mas  tenho que dizer que quando terminei de ler o Insurgente eu fiquei passada com o final do livro.
Aquele final... Nossa. Affe. Uau e mais um quilo de interjeições.


Condenada


Qual a primeira regra do Clube da Luta?

É isso ae, todo mundo sabe que não se deve falar do Clube da Luta. Assim como todo mundo sabe que a brisa dos livros do Chuck Palahniuk estão todas em um outro nível de brisa. Então o criador do Tyler Durden, resolve contar um história sobre uma adolescente gorda que vai pro inferno arrancar o bigode do Hitler, e é óbvio que este livro estaria na lista de melhores livros que eu li este ano.


Todo Dia
Comprei este livro porque achei que a brisa sobre um ser que acorda cada dia em um novo corpo e toma por 24 horas a vida de alguém emprestada seria uma brisa doida e desenfreada. Aí nos primeiros capítulos a coisa toda degringolou para um drama adolescente que à primeira vista soava água com açúcar. Como eu tinha comprado o livro (tipo comprado com dinheiro e tal, é sempre bom ressaltar o dinheiro) continuei lendo pra ver no que aquela história ia dar, e o que parecia um livro bobinho sobre adolescentes se transformou em uma profunda reflexão sobre todos os tipos de preconceitos que a gente carrega. E é impressionante como o David Levithan consegue falar sobre assuntos sérios de maneira simples e direta (afinal o livro é mesmo pra adolescentes).


O Herói Perdido


Sim, todo mundo histérico com o A Casa de Hades e eu ainda lendo O Herói Perdido, mas é a vida...
E posto que é um livro do Rick Riordan, tem que falar mais alguma coisa?
Eu já tinha lido os 5 Percy Jacksons. Eu já tinha lido os 3 das Crônicas Kane. Ae o cara vai e coloca num mesmo livro as mitologias grega e romana e tira um barato com as duas.
Vou falar mais o quê?



quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O trabalho dos sonhos


Aviso:
Este texto não tem a intenção de desrespeitar as obras de Stephen King e Stanley Kubrick, embora possivelmente (muito provável) isto aconteça.

Aviso 2:
Este texto é apenas uma elucubração sem qualquer pretensão ou propósito de ofender ninguém, embora provavelmente (é possível) isto aconteça.


E feito os devidos esclarecimentos, agora estou apta a dizer todas as bobagens que eu quiser



Até pouco tempo atrás eu tinha a plena convicção de que o emprego daquela argentina lazarenta que apresentava o Ciudades y Copas no Discovery Travel & Living era o trabalho dos sonhos. Tudo o que aquela cretina tinha que fazer para ganhar dinheiro era viajar pela América Latina indo de bar em bar experimentando as biritas locais (aliás, programas deste tipo são de um sadismo absurdo, esfregar na cara do assinante de TV a cabo que existe um mundo inteiro além das tantas polegadas de sua smart TV é muita tortura). E apesar de continuar achando uma excelente ideia ser paga para beber e viajar, o fato é que depois de mais de um ano trabalhando num shopping que é um ralo por onde escoa todo tipo de gente (todo tipo de MUITA gente) me veio a ânsia pelo isolamento, o que não privilegia a coisa toda de ficar indo de bar em bar (cheio de MUITA gente).

Não me leve a mal, eu acho a humanidade fantástica e adoro pessoas (afinal as pessoas criaram as artes, desenvolveram a tecnologia e inventaram o café solúvel), mas (mas é uma palavra importante) as pessoas às vezes (às vezes mais, às vezes menos) enchem o saco, torram a paciência e te fazem pensar como seria não ter que aturar o drama, as complicações e as baixas expectativas de ninguém por um tempo.

Pensando em isolamento me veio na mente a história de O Iluminado (é, aquele livro/filme que o cara é contratado pra cuidar de um hotel durante o inverno e arrasta mulher e filho para o meio do nada).

E sim, trocar (mesmo que hipoteticamente) a chance de beber por toda a América Latina pelo isolamento de um hotel no meio do nada mostra bem o meu estado de espírito, mas a ideia realmente me apetece. Imagina passar um tempo isolado, curtindo a solidão e voltar com saudade das pessoas, do trânsito e das filas de supermercados. E fora isso ainda tem todo o espaço e tempo livre, eu poderia treinar guitarra a hora que eu quisesse e com o amplificador no volume que eu bem entendesse. Um mês de isolamento e as quintinas não seriam mais problemas. Só pra não me encantar demais com o isolamento, eu teria minha dose diária de humanidade assistindo filmes (de preferência brisados, sobre gente doida, drogados e suicidas). E (seguindo o exemplo do personagem do Jack Nicholson) eu teria muito tempo e absoluto sossego pra escrever, escrever e escrever.

Claro, existe a possibilidade de a macumba enterrada nas fundações do hotel dificultar minha vida, mas eu tenho um plano pra evitar isso.

Primeiro, eu não levaria criança nenhuma comigo. Todos os filmes de terror já deixaram bem claro que crianças nunca são uma boa ideia em hipótese nenhuma, ou elas carregam a semente do mal que vai acabar com a sua vida ou representam a inocência que você vai ter que morrer para salvar. Como eu disse, não são uma boa ideia, então nada de crianças. Em vez do moleque com o amiguinho na boca (problema que seria facilmente resolvido com Listerine), eu levaria a Amelie – além de tudo ainda dizem que gatos espantam espíritos, almas penadas e consultoras da Avon.

Segundo, eu evitaria o quarto 237.

Terceiro, os exercícios de metrônomo com a guitarra me protegeriam. Tipo, as almas penadas estão mortas mas não estão surdas.

E se você está se perguntando o que aconteceria caso as gêmeas do capeta aparecessem do nada num fim de corredor, sem pânico. A solução é simples: uma boneca Monster High pra cada um e tá tudo certo.

Ou seja, a quizomba que (possivelmente) assombra o hotel não me aterroriza e eu realmente gostaria de ser paga para me isolar temporariamente.

Se alguém souber de alguma oportunidade, favor entra em contato.

sábado, 7 de setembro de 2013

A razão


AVISO:
Este texto abdica da obrigação de fazer sentido

AVISO 2:
O texto deste post é purpurina tentando soar como cimento


E feitos os esclarecimentos acima, agora estou livre pra postar a bobagem que eu quiser



Às vezes eu tenho a sensação de que colocaram uma surdina no mundo, como se uma substância ou circunstância maléfica abafasse e homogeneizasse tudo: as pessoas, os sonhos, as aspirações, forçando todos a se contentarem em seguir um modelo pré-estabelecido.


Neste mundo amaldiçoado aonde todos se adequam ao molde, as pessoas vão todas abandonando as cores e adotando os tantos tons de cinza. No fim acabam meramente existindo, sobrevivendo, terminam todas como atores amadores, escritores nas horas vagas, atletas de fim de semana e músicos em rodas de amigos mesmo tendo talento para ser bem mais que isso. A eterna parábola da pulga dentro da tupperware tendo seus saltos limitados pela tampa, o elefante de circo amarrado ao banquinho, o obstáculo imposto e irreal.  

Em resposta a esta apatia generalizada, o sistema imunológico universal está a todo o momento gerando anticorpos. E então, por obra divina ou aparente acaso, as nuvens se dissipam e algo te atinge, te acorda da letargia. Uma réplica de um da Vinci exposta em uma sala propositalmente gelada, uma passagem de livro que você acaba relendo incontáveis vezes, uma cena tão bem escrita que você se pergunta como nunca pensou nisso antes, a mensagem dos deuses presa numa fotografia, um vocalista berrando um refrão que diz que “tudo o que precisamos é de uma razão”, que “tudo o que precisamos está dentro de nós”. Você nem sabe que estas são formas dos anticorpos universais, mas eles causam o efeito que têm que causar, eles fazem algo queimar em você, uma ideia, uma inspiração, um incômodo causado pela constatação de que você não está sendo você, e então a reação acontece. E daquele momento você não consegue mais deixar de ser você mesmo em tempo integral, os moldes e convenções perderam a validade, você está livre. 

Talvez (e este "talvez" nada mais é que modéstia simulada) cada um de nós devesse seguir o conselho do Bukowski: encontrar algo que ama e deixar isso nos mate, e talvez nesta morte encontrássemos vida. Afinal, como o próprio velho safado, bêbado e fodido disse, a "sua vida é sua vida", então "não deixe que ela seja esmagada em fria submissão".

Twitter: @robertagrassi
Wattpad: RobertaGrassi

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Huxley, o macaco e a essência



"O amor elimina o medo; mas reciprocamente o medo elimina o amor. E não apenas o amor. O medo elimina a inteligência, elimina a bondade, elimina todo pensamento de beleza e verdade. Só persiste o desespero mudo ou forçadamente jovial de quem pressente a obscena Presença no canto do quarto e sabe que a porta está trancada, que não há janelas. E então a coisa o acomete. Ele sente uma mão na sua manga, respira um bafo fétido, quando o ajudante do carrasco se inclina quase amorosamente para ele. “É a sua vez, irmão. Por aqui, tenha a bondade.” E num instante o seu terror silencioso se transforma em frenesi tão violento quanto inútil. Não é mais um homem entre os seus semelhantes, não mais um ser racional falando articuladamente a outros seres racionais; somente um animal ferido, ululando e se debatendo na armadilha. Pois, no fim, o medo elimina no homem a própria humanidade. E o medo, meus amigos, o medo é a própria base e fundamento da vida moderna. Medo da tão apregoada tecnologia que, enquanto eleva o nosso padrão de vida, aumenta a probabilidade de nossa morte violenta. Medo da ciência que tira com uma das mãos ainda mais do que tão prodigamente distribui com a outra. Medo das instituições manifestamente fatais pelas quais, em nossa lealdade suicida, estamos prontos a matar ou morrer. Medo dos Grandes Homens que elevamos, por aclamação popular, a um poder que eles usam, inevitavelmente, para nos massacrar e escravizar. Medo da guerra que nós não queremos mas tudo fazemos apara desencadear."



Uma vez, há algum tempo, eu quis escrever um post sobre O Macaco e a Essência – livro de Aldous Huxley de onde o treco acima foi retirado. Essa foi uma daquelas aspirações estupidas que se tem de vez em quando e que raríssimas vezes dão em alguma coisa e que definitivamente nunca dão certo.

Como em qualquer texto metido à besta que busca enaltecer um livro que o escrevinhador/blogueiro achou muito, muito, muito bom, este post começaria com a sinopse ou uma breve explicação sobre o que o livro que deve ser enaltecido trata, e este seria o primeiro erro, já que este tipo de informação é encontrado facilmente (e nós agradecemos ao Google por esta facilidade) e todo mundo sabe que qualquer informação que você vai atrás por interesse próprio é muito mais apreciada do que aquela que é esfregada na nossa cara.

Mas o grande problema de querer escrever qualquer coisa sobre este livro é que tudo e qualquer coisa que eu escrevesse ficaria inevitavelmente aquém do livro (porque o bagulho é bom e a brisa é louca). E enumerando mais alguns contras à ideia do post sobre O Macaco e a Essência, a vontade foi engavetada e ficou em coma por um bom tempo, até que está semana eu esbarrei no treco acima e ela resolveu ressuscitar-se.


A solução para suprir esta vontade imbecil foi simples: postar o trecho acima e deixa-lo agir como tapa na cara avulso e resumir este blábláblá todo em duas palavras: leia Huxley. Aliás, leia qualquer coisa do Huxley. Mais aliás ainda (esta expressão existe?), leia qualquer coisa de qualquer grande autor, permita-se ter acesso às grandes ideias e desfrutar da companhia das grandes mentes, mesmo que seja apenas através de um livro.

terça-feira, 4 de junho de 2013

O Azarão


AVISO:
Isto não é uma resenha, uma crítica ou qualquer troço do gênero. Não quero a responsabilidade de escrever um texto analisando um livro (assim como não quero tantas outras responsabilidades).

E dito isto estou habilitada a escrever a babaquice que eu quiser


“Uma coisa está para acontecer. Estava lá fora, em alguma parte além da vidinha limitada de sempre. Estava lá fora; não que me esperasse, mas existia. Era. Talvez estivesse só imaginando se eu ia alcança-la.”


Quanto mais você lê, mais exigente você fica. Quanto mais livros você devora, mais seletivo você fica com os próximos que vai ler. E quanto mais ficção você consome, mais ficção você quer consumir.

Eu tinha terminado de ler Mochileiro Aprendiz Aventureiro (livro autobiográfico que conta a história de um brasileiro fazendo suas brasileirices para sobreviver em Londres), e, como não tinha mais livro nenhum, terminei de ler o A Culpa é das Estrelas (livro que eu tinha desistido de ler e que vou me abster de fazer qualquer comentário). Tudo isso no mesmo dia, porque o movimento na loja estava morto e eu tive muito tempo livre. E foi aí que bateu o desespero de não ter livro nenhum e de ter mais três horas pela frente.

Impulsionada pela crise abstinência, desci até a livraria Nobel e lá entrei disposta a gastar os tubos desde que recebesse em troca uma porção consistente e considerável de ficção.

A vendedora que sempre me atende lá é muito simpática (ela acha que eu tenho cara de quem gosta de livros tipo Clube da Luta. Por que será?), logo que eu entrei na livraria ela perguntou o que eu estava procurando e eu cretinamente respondi “um livro”. Aí começou a via sacra de “tem tal livros? Não, este acabou. Tem aquele outro? Não, a procura foi muito grande, mas tem este aqui que acho que você vai gostar”. Sem brincadeira nenhuma, TODO livro que eu perguntei se tinha, não tinha.

Fiquei zanzando pela livraria enquanto a vendedora me oferecia um livro depois do outro e nenhum deles me dava aquela fissura de querer comer uma página depois da outra.

Acabei na estante da letra Z (os livros são organizados por ordem alfabética do sobrenome do autor), fui lá ver se tinha algum do Zafón que eu ainda não tinha lido. E foi quando minha mão esbarrou num livro do Zusak: O Azarão.

Se você ficou até às seis horas da manhã lutando para ler o final de A Menina que Roubava Livros enquanto seus olhos insistiam em se encher de lágrimas, então você sabe que Markus Zusak escreve pra caramba.

Eu já tinha visto O Azarão à venda na internet e nunca tinha me interessado, mas dado o meu desespero o livro pareceu caído do céu (e, de fato, foi mesmo).

O Azarão, o primeiro de uma trilogia, conta a história de um moleque, Cameron Wolfe, de 15 anos que zanza por aí tentando se achar e fazendo algumas besteiras enquanto isso. O livro lembra um pouco O Apanhador no Campo de Centeio e Outsiders, mas eu nem vou me aprofundar muito nessa comparação simplesmente porque toda comparação tende a ser injusta com os comparados (e porque comparação é um troço idiota mesmo, mas eu continuo fazendo).

E é surpreendente a simplicidade e a profundidade com que Zusak conta a história deste moleque. A gente sempre acha que uma boa história é inevitavelmente fruto de uma ideia mirabolante, mas O Azarão é um livro sobre um cara normal que mais de uma vez admite ser medíocre, e apesar de uma história super comum o livro é extraordinário – algo que só quem escreve absurdamente bem consegue fazer.

Resumo da ópera: 24 reais e uns quebrados muito bem gastos e a crise de abstinência vencida, o que mais eu poderia pedir de um livro?




sábado, 18 de maio de 2013

A arte da brisa



Aviso:
O nome mais acertado para este post seria “A arte de filosofar”, mas eu achei que “A arte da brisa” soava melhor.


Aviso 2:
Este post não é uma resenha, nem uma crítica, nem qualquer outra tralha do gênero. Se você quer uma classificação para este texto, encare-o como um comentário que se estendeu além da conta.


“Ficamos tristes em casa e culpamos o tempo e a feiura dos prédios, mas na ilha tropical aprendemos (depois de uma discussão num chalé, sob um céu azul imaculado) que as condições climáticas e a aparência de nossa morada jamais serão capazes, por si só, de escorar nossa alegria ou nos condenar à infelicidade”.



Sei lá desde quando A Arte de Viajar do Alain de Botton estava na minha lista de livros que eu queria, e sei lá por que eu não comprei este livro antes, pra falar a verdade eu nem me lembro como cheguei até este livro.

Eu gosto de ficar fuçando em sites que vendem livros, é como consultar um catálogo de vidas que você pode escolher viver: você olha a capa do livro, lê a sinopse e escolhe o que vai ser durante os dias em que estiver lendo aquele livro.

Sim, viver através de livros é uma vida pela metade, constantemente interrompida pela realidade, mas eu aprecio muito a sensação do meu cérebro interpretando as palavras impressas na página e enviando ordens para a “destilaria” dentro dele, que libera as “quimicazinhas” que me fazem sentir o que aquelas palavras estão dizendo. Eu realmente aprecio esta sensação. 

Provavelmente em alguma destas fuças entre livros à venda, meu cérebro passou a esperar para enviar à destilaria as ordens vindas de A Arte de Viajar.

Como consumidora ávida de ficção e acostumada a histórias com começo, meio e fim bem definidos, eu achei que o livro poderia ser meio complicado, mas a leitura é super fluida porque Alain de Botton escreve super, super, super bem.

Mais do que filosofar sobre o fascínio que o ato de viajar nos desperta, ou o por que nos dispomos a abandonar o conforto do lar, nos aventurar em culturas diferentes e “habitats” que não são os nossos e, por fim, por que sempre voltamos para casa, o livro acaba por oferecer uma nova maneira de encarar tudo a nossa volta. E a maneira com que o autor faz isso é o mais interessante: em cada parte do livro ele explora um lugar “junto” com uma personalidade.




Em determinado momento to livro, por exemplo, somos levados à Provença, na França, lugar onde Van Gogh viveu por 15 meses. A partir de um relato de viagem do autor, descobrimos como a região inspirou Van Gogh e como a presença do artista influenciou a cidade.

Nem preciso dizer o quanto eu brisei com o livro, né?

Ah sim. E além de tudo, o livro tem figuras!

Resumo da ópera: R$14,87 muito bem gastos (e o livro ainda chegou antes do prazo).



quarta-feira, 8 de maio de 2013

Todas as palavras que eu escrevi




Aviso:
Sim, o Esquizofrenia Coletiva está sendo ressuscitado

Aviso 2:
O post a seguir contém incoerência, egocentrismo, palavras chulas, certa dose de falta de noção e outros fatores que podem fazer mal à saúde, mas que são a alegria de muita gente.


E dito isto estou habilitada a postar a bobagem que eu quiser.



Se você acompanhou a minha histeria de ontem já deve desconfiar sobre o que este texto trata (aliás, “a histeria de ontem” é uma combinação de palavras fantástica, mas este post não é especificamente sobre esta combinação de palavras).

Não é novidade pra ninguém que me conhece (e para alguns desconhecidos também) que eu gosto de escrever e aporrinhar os outros para ler a joça toda que eu escrevi. Em algumas raras ocasiões minhas escrivinhadas tomam proporções acima das esperadas e me proporcionam alegria imensa e uma inflamação de ego por tempo indeterminado. Uma destas ocasiões aconteceu ontem (e foi o motivo da minha histeria): um dos meus contos vai fazer parte da uma antologia da Editora Draco, e quando eu fiquei sabendo disso eu tive um meio ataque histérico e saí dando pulinhos (mas tudo bem, porque meu local de trabalho, assim como grande parte da cidade de Guarulhos, foi construído em cima do que antes era um hospício indígena, então as demonstrações de demências ali são constantes e recorrentes – e todos nós amamos redundância!).

Não acredita? Clica AQUI e confere.
(Me refiro ao conto selecionado na antologia e não às evidências de que Guarulhos foi construída sobre sanatórios indígenas)

A questão é a seguinte: se apenas em raras ocasiões o que eu escrevo ganha certa relevância, então por que eu insisto em escrever?

A resposta óbvia é que essas “raras ocasiões” compensam todas as outras tentativas que não surtiram o efeito que eu queria (e que mesmo assim não foram em vão, já que os textos resultantes destas tentativas continuam a existir). 
Mas a coisa vai além disso: eu escrevo pelo simples prazer de escrever, pela satisfação de ver uma folha em branco passar a abrigar vidas e história que não existiam antes e que não existem em mais lugar nenhum além daquela página. Eu escrevo porque me surgiu uma ideia e eu decidi que esta ideia merecia ser desenvolvida e expandida, esmiuçada em detalhes. Escrevo pelo egocentrismo de achar que uma bobagem que eu pensei merece ser registrada e mostrada a outros, e que alguém vai tirar disso qualquer proveito (mesmo que esse proveito seja uma diversão passageira). Eu escrevo porque a ideia ficou martelando na minha cabeça. Escrevo por capricho e só pra satisfazer uma vontade. Escrevo para mim, embora quando outros leem o que eu escrevi a história ganha vida e nova forma numa imaginação diferente da que a criou. Eu escrevo porque cada página escrita é como um horcrux (e eu torço para não perder o nariz igual o Voldemort), cada história que eu invento e registro é como um ponto fixando minha existência neste mundo, trazendo a sensação de imortalidade porque mesmo depois que eu não estiver mais aqui as pessoas vão poder me achar diluída nas combinações de palavras que eu criei. Eu escrevo porque a página estava em branco e o cursor ficava piscando me perguntando “e agora, o que acontece?”.

E eu vou continuar escrevendo, porque sempre vai haver uma nova “rara ocasião” em que o que eu escrevi ganha certa relevância e eu vou poder me refestelar na minha inflamação de ego e mais uma vez dizer “bom trabalho, Roberta. Bom trabalho”.



PS: Eu avisei que o post estava abarrotado de incoerência e egocentrismo, não avisei?