sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Zumbi, em crise existencial e fã do Sinatra

“Olho bem para o rosto de Julie. Não apenas isso. Eu o examino. Cada poro, sarda e fio de cabelo fino. E então olho para as camadas abaixo disso. A carne e os ossos, o sangue e o cérebro, indo para baixo até a energia desconhecida que gira em seu núcleo, a força vital, a alma, a poderosa força de vontade que faz com que ela seja mais do que apenas carne, correndo em cada célula e as fundindo aos milhões para formá-la. Quem é essa garota? O que é ela? Ela é tudo. O corpo dela contém a história da vida, relembrada pela química. A mente dela contém a história do universo, relembrada pela dor, alegria e tristeza, ódio, esperança e maus hábitos,  cada pensamento de Deus, passado, presente e futuro, relembrados, sentidos e esperançosos, todos de uma só vez.”



O trecho acima é a descrição que um zumbi faz de um ser humano e é do livro Sangue Quente do Isaac Marion.



A história de Sangue Quente é contada por R, um zumbi fã do Frank Sinatra que em uma de suas caçadas a humanos mata e come o cérebro de Perry Kelvin, e com isso acaba tendo visões da vida de sua vítima (no livro de Marion quando os zumbi comem os cérebros eles têm visões das memórias dos donos do cérebro, os zumbis usam o cérebro como uma espécie de alucinógeno). E é através das memórias de Perry que R conhece Julie, namorada de Perry. Sem entender muito bem o que está fazendo ou os motivos que o levam a fazer isso, R impede que outros zumbis ataquem Julie e a leva para o aeroporto onde vive, e sem perceber dá o primeiro passo em busca da sua humanidade perdida.

E falando assim parece que Sangue Quente é uma baboseira no melhor estilho água com açúcar, mas o livro é bem mais do que isso. Enquanto R se apaixona por Julie e se depara com tudo que ele perdeu ao deixar de ser humano, o livro acaba nos forçando a ver o quanto da nossa humanidade estamos suprimindo e nos conduz à pergunta: as pessoas existem, mas elas estão realmente vivas?

E a maneira como Marion escreve a história é um caso à parte.
Em determinado momento do livro, impossibilitado de se expressar devido à péssima dicção dos zumbis, R recorre a uma compilação de músicas do Sinatra em vinil e vai posicionando a agulha do toca-discos nas faixas do vinil, escolhendo as palavras que ecoam em sua mente mas que ele não consegue dizer.
O tipo de coisa que eu queria ter imaginado antes do autor.

Ah é. Na capa de Sangue Quente vem um comentário da autora da série Crepúsculo falando o quanto ela gostou do livro, e (como eu disse no meu texto sobre Muse no Social Rock Club) é mais do que evidente que a série de livros/filmes sobre os vampiros de Stephenie Meyer desperta o ódio na mesma proporção em que angariou fãs ardorosos. Mas você não vai julgar um livro pela capa, vai?



@robertagrassi

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

pensamento distante

às vezes não queremos muito mais...
do que realmente já conquistamos...
só queremos poder ir e pra um dia voltar...
mas por quê voltar???

às vezes queremos só ouvir, ou fazer com que o mundo nos ouça...
e não é nada demais, não parece ser...
mas faz toda a diferença....


porque na maioria das vezes, não tem lógica, não precisa....
mas quem precisa de lógica quando não se tem o que explicar???

até porque... às vezes...
é só o que conta...

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O Vendedor de Sonhos


Em um pequeno vilarejo, distante das grandes capitais, o homem mais poderoso da cidade é dono de três cavalos, duas vacas e tem um fusca com mais de 20 anos. Um lugar que não conhece as novas tecnologias, não conhece o poder da mídia, vive em um mundo só seu.
O prefeito da cidade comanda pouco menos de 200 pessoas. Vivem até hoje sem eletricidade. Vivem felizes.
Um de seus habitantes curiosamente ganha a vida vendendo frascos de sonhos. As pessoas compram e bebem o elixir mágico que os fazem ver a vida de outra forma, alguns ao beber tem visões de grandes metrópoles, asssustadoras aos seus padrões de vida, outros se imaginam tão poderosos que são donos do mundo. Este homem passa suas noites preparando seus frascos, e durante o dia anda pela cidade vendendo sonhos, o momento mais aguardado depois do almoço.
Todos consomem seus sonhos. Todos têm grandes sonhos e ambições, mas não saem nunca da cidade. Eles têm o que precisam, vivem de sua própria agricultura, de suas terras. Mas os sonhos os alimentam em outro nível de realidade.
Há muitos anos esses sonhos são vendidos, ninguém sabe dizer o que há dentro daquelas garrafas escuras que os deixam sonolentos e vêem a vida de outra forma, mas é tudo que precisam para continuar felizes como vivem, exatamente onde vivem.
Ele sempre espera todos almoçarem e então passa com sua sacolinha, os sonhos são diversos, há de todos os tipos, e ele nunca voltou para casa com um frasco cheio sequer.
A cidade raramente recebe turistas, são poucos os que saíram para viver em outros lugares, mas quem saiu há muito tempo, nunca chegou a conhecer o vendedor de sonhos. Mas a neta do prefeito estava voltando, ela tinha se mudado para estudar fora, tentar trazer um pouco mais de conhecimento ao lugar onde passou quase toda sua vida. Quando retornou reencontrou velhos amigos, nada nunca mudou. Mas de imediato soube do momento mais feliz da cidade, à hora pós almoço em que o vendedor passava. Todos gostavam dele e conversavam por alguns minutos, contavam de seus sonhos e ele os tinha dentro de sua sacola. A moça intrigada com isso, não entendia porque as pessoas se entregavam a isso, poderia ser um alucinógeno, ou uma forte droga viciante, coisas que aquele vilarejo nunca vira antes, mas ela sim. Conversou com seu avô e ele mesmo confirmou que todo o dia compra um frasco de sonhos. Cada vez mais curiosa, ela que recém retornara ao seu berço, tinha que ver aquilo, tinha que saber o que era. Quis saber quem era a pessoa, o gosto que tinha beber um sonho.
E então, naquele dia, após o almoço ela o viu, lembrava-se dele, claro, era um homem simples que cultivava uma pequena horta com vários tipos de legumes, e vivia um pouco mais isolado que os demais habitantes, isso a deixou completamente perplexa. Ela viu toda a cidade comprar os sonhos liquidos e irem dormir felizes. Ela também bebeu, mas dormiu sem sonho algum, ainda assim, preferiu apenas sorrir e dizer aos parentes que teve o melhor sonho de sua vida ganhou sorrisos de volta como prova de que o vendedor realmente deixava a cidade feliz.
No final daquela tarde, ela foi visitar o homem que vende sonhos. Conversou com ele, ele garantiu que não eram drogas, tão pouco alucinógenos que ele nem imaginava o que significava essa palavra. Mas ela não estava satisfeita. Ela por ter vivido tanto tempo fora adquiriu uma caracteristica incomum para aquele lugar. A desconfiança.
E as semanas que passaram ela continuava a beber os sonhos, tirar o cochilo depois do almoço, mas ainda estava intrigada. Então resolveu conversar de novo com o vendedor, ela tinha que saber o que era. Mas ele não disse. A moça pensou até mesmo em levar um frasco para fora da cidade, pedir uma analise para saber o que consumia e viciava aquela cidade, mas não achou que seria certo fazer algo assim com aqueles sonhadores, mas por outro lado ela descobriria a verdade, mesmo que magoasse sua família e amigos.

Só o que ela não esperava é que o vendedor de sonhos um dia a convidasse para fazer os sonhos com ele. De prontidão ela aceitou e foi encontrá-lo á noite, tudo o que ele pediu é que o que ela visse, nunca fosse contado a ninguém, de modo algum, pois era aquilo que mantinha a cidade alegre e feliz, por menos que eles todos tivessem. Ela concordou.
Foi quando viu que o "sonho", nada mais era do que suco de graviola, uma fruta desconhecida da cidade, misturada com leite e açucar, ela ficou ainda mais perplexa, naquele momento, entendeu que o que ele oferecia era apenas um simples suco, mas que os sonhos e ambições estavam dentro de cada um daquele povoado que por medo de deixar a cidade, se deixava levar pela ciesta, afinal, ele vendia depois do almoço porque sabia que as pessoas já estavam cansadas e querendo descansar, então, só os incentiva a sonhar. Após saber isso, ela manteve sua promessa, viveu por mais alguns meses lá e todos os dias ao cochilar depois do almoço tinha grandes sonhos.
Quando foi embora ela finalmente entendeu que o vendedor de sonhos, apenas deu um nome mais bonito a uma fruta que ninguém nunca ouvira falar, até porque, sonhos todos tem, seja qual for, mas experimentar algo novo, num lugar tão rudimentar, talvez não fosse bem aceito e com as palavras certas, as pessoas realmente sonhavam com o que falavam. Nunca houve drogas ou alucinações. Apenas sonhos adormecidos dentro de cada habitante daquela cidade. E assim continuará enquanto aquele homem tiver sementes de graviola para plantar.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O lixo da NASA é o 2º Diabo



Quando eu estava escrevendo o Esquizofrenias (livro que ainda precisa de uma editora) eu assisti tudo quanto foi documentário e li tudo sobre astronomia que me apareceu pela frente. E no meio de todo este material sobre astronomia eis que me surge uma teoria que diz que o mito do Diabo teve origem quando um meteoro caiu na Terra.

E se você parar pra pensar vai ver que essa teoria tem até certa coerência: quando um meteoro atinge a atmosfera terrestre ele entra em combustão devido ao atrito causado pela grande velocidade, daí a coisa toda de ser um anjo de luz vindo do céu e caindo na Terra; e é raro um meteoro chegar ao solo com tamanho superior a um grão de areia, mas pode acontecer, e quando acontece o impacto de um corpo celeste caindo em alta velocidade nunca trás alegria e paz, e provavelmente deste fato se original a ideia de um ser personificando o mal e distribuindo caos e destruição por onde passa. Daí até o meteoro virar um ser com rosto humano, rabo pontiagudo, chifres e vermelho (!?) a fofoca mais mal contatada de todos os tempos percorreu um longo caminho.

Vendo as notícias sobre o satélite desativado da NASA que caiu no mar semana passada eu lembrei dessa história. E então me perguntei: já que Brasília é a fonte de inferno dos brasileiros, não seria justo um satélite de 6 toneladas (uma espécie de 2º Diabo) cair sobre o Plenário?


Claro, está é uma ideia idiota. A suspeita (já que a NASA não sabe nem determinar exatamente o local onde o lixo dela caiu) é que o satélite se despedaçou ao entrar na atmosfera, então o estrago não seria muito grande. E as chances são sempre maiores de um troço desses cair numa área desabitada ou no mar – até hoje não se tem registro de ninguém que morreu por ter sido atingido por um satélite ou outro lixo espacial que caiu do céu.

Mas, em todo caso, fica aí a dica para o próximo satélite que a gravidade resolver trazer de volta pra casa (principalmente para o alemão de 1,6 toneladas que está previsto para novembro): que tal você fazer uma visita para o nosso amigo Tiririca?

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Às vezes, de vez em quando

Há dias que não deveriam acabar enquanto outros passam tão rápido que nem percebemos... talvez, por isso, às vezes não parece ter sido real... mas há lembrança.

Tem horas que custam passar e gente que nunca vai desaparecer... gente que sumiu, gente que ainda vai surgir, nunca se sabe... e ainda tem aqueles que sempre acabam voltando... mesmo quando acreditavam não saber voltar.

Há luzes espalhadas pelo mundo, cada um acaba seguindo uma, outros seguem só as sombras, outros preferem a escuridão dos becos... e muitos de nós preferem não ver nada.

E no final todos são livres pra fazer suas escolhas, sempre, o tempo todo... o tempo todo há pessoas indo, voltando, escolhendo, desistindo, lutando... o tempo todo...

Todos sempre tem uma escolha. Sempre há uma. Mesmo que não seja o que se espera, sempre há escolha... o tempo todo, pra tudo...

disturbios

não quero ser apenas aquilo que posso ver, preciso ir além dos horizontes que meus pensamentos podem ir.
engraçado pensar em como essa frase martelou minha mente por tanto tempo, parecia querer me dizer para ir além, mesmo que eu não soubesse ir além do que... mas nem por isso parei de pensar como se precisasse descobrir algo sobre mim que eu ainda não soubesse.
é tão estranho pensar que pode existir algo sobre nós mesmo que não conhecemos. mas se for parar pra pensar, por quê não? o universo é algo gigante e ainda inexplorado por completo, isso tudo são milhões de atomos e moleculas que juntos constituem imensos corpos celestes, mas veja bem, "atomos e moleculas", são parte de nós, logo, somos parte do universo, logo, somos parte do mistério, ou uma parte da resposta.
fico confuso de pensar nessas coisas porque parece que quando vejo as coisas assim, as respostas que quero parecem diluir num copo d'agua, como se um analgesico caísse dentro. e então todas aquelas bolhas de ar, cada uma com uma resposta dentro vão desaparecendo, por mais que eu queira, não seria bebendo a agua que eu encontraria as respostas.
talvez, como odeio esse "talvez", existam mais coisas sobre nós mesmos que seja melhor não descobrir, ou que mesmo a ciencia não possa explicar.
mas há tão pouco o que não é explicado por ela, e, sempre há o atrito natural do lado cientifico e o filosofico. não sei para qual lado eu tenho tendencia de acreditar mais, porque há verdade em ambos os lados, há grandes heranças em ambos os lados, e não sei se quero ter que escolher, não quero ter que acreditar somente numa coisa, pois busco respostas de uma frase tão confusa quanto este momento em que escrevo, mas a idéia central era mesmo pregar a confusão, não sei se apenas em mim ou em você que leu e não entendeu nada.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

QUANTO VALE O SER HUMANO


Provavelmente você já escutou alguém dizer “fulano não vale nada” ou “fulano não vale o que come”. Provavelmente você já escutou isso várias vezes.
            
Acontece que, segundo um bioquímico da Universidade de Yale nos Estados Unidos, as frases que acima aparecem entre aspas estão cientificamente incorretas.
            
E destaco aqui a minha admiração pelo raciocínio lógico dos cientistas. Se me fosse dada a tarefa de calcular o valor de um ser humano, a minha primeira referência para calcular o valor seria a pergunta “quem é o ser humano a ser calculado?”, provavelmente eu estipularia valores mais altos para aqueles que eu mais estimo e ninguém valeira mais do que a minha – porque minha mãe é quase uma santa, quando ela morrer (e eu rezo para que isso demore muitos anos para acontecer) ela vai direto para a ala dos fumantes no céu.
            
Já o bioquímico que se propôs a calcular o valor de cada ser humano partiu do ponto de que todos somos iguais pois temos a mesma constituição química, e foi justamente a constituição química do nosso corpo que ele usou como base para calcular o “preço” de um ser humano.
         
Primeiro ele levantou uma lista de tudo que faz parte da nossa constituição: DNA humano, colágeno, hemoglobina, insulina e mais uma série de “inas” e outras substâncias que formam nosso corpo. Após verificar o valor do grama de cada uma das substâncias da lista, ele calculou a proporção de cada uma delas no nosso organismo e a partir daí encontrou o valor do grama do corpo humano: R$ 466,52.
           
 Após achar o valor médio de um grama do corpo humano, o bioquímico tomou como exemplo uma pessoa de 79 kg. Como o nosso corpo consiste em 68% de água, ele extraiu a quantidade de água de um corpo humano de 79 kg e obteve a biomassa (peso seco) de 24 kg e 436 gramas. Multiplicando o valor do grama pelo peso seco ele obteve como resultado que uma pessoa de 79 kg vale em média R$ 11.399.882,72.
            
Transformando os números em palavras este valor fica mais impressionante ainda: onze milhões trezentos e noventa e nove mil oitocentos e oitenta e dois reais e setenta e dois centavos.
            
Imagine se neste exato momento você tivesse R$ 11.399.882,72, e em seguida pense que, segundo o nosso amigo de Yale, cada ser humano, incluindo eu e você, de fato dispõe mais ou menos deste valor espalhado por todas as suas células.
            
Este é um pensamento estranho, que se levado a sério e ruminado por muito tempo faz o cérebro dar nó. Seguindo esta linha de raciocínio posso dizer que sempre que abraço alguém estou abraçando onze milhões trezentos e noventa e nove mil oitocentos e oitenta e dois reais e setenta e dois centavos; quando estou dentro de um carro aguardando o semáforo ficar verde e vejo outro motorista parado ao meu lado e um pedestre atravessando a rua, na verdade estou vendo onze milhões trezentos e noventa e nove mil oitocentos e oitenta e dois reais e setenta e dois centavos parados ao meu lado esperando o semáforo abrir enquanto onze milhões trezentos e noventa e nove mil oitocentos e oitenta e dois reais e setenta e dois centavos atravessam a faixa de pedestre; aquele número esmagador de pessoas que morreram nas guerras ou as que foram vitimas do descaso dos que estão no poder e morreram de fome ou de doenças que poderiam ser curadas se houvesse interesse político nisso, todas elas constituem um rombo incalculável nos cofres da humanidade.
           
De fato uma linha de raciocínio muito estranha esta.


Num mundo onde o que prevalece são as cifras e os lucros, estipular o valor de cada ser humano é algo realmente significativo, pois ninguém é louco o bastante para desprezar, ferir ou mesmo matar onze milhões trezentos e noventa e nove mil oitocentos e oitenta e dois reais e setenta e dois centavos.

sábado, 3 de setembro de 2011

O COMEÇO DE TUDO


No começo não existia nada, e então houve uma explosão.
Não foi uma explosão muito grande. E, diferente do que muitos pensam, não houve nenhum bang.
Cientistas afirmam que menos de um bilionésimo de segundo depois da explosão uma bolha muito menor do que uma fração de um átomo se formou. Esta pequena bolha era todo o Universo e tudo que existe hoje, o que já existiu um dia, o que um dia vai existir, tudo o que aconteceu depois aquela explosão e tudo o que ainda está por vir estava comprimido dentro daquela bolha minúscula.
Logo depois desta explosão, as forças que comandavam aquela pequena bolha desafiaram Einstein e o Universo se expandiu em uma velocidade maior que a da luz. E tudo bem que naquele momento Einstein ainda não existia e ainda não tinha dito que nada pode se mover a uma velocidade maior que a da luz, mas o fato de que nos seus primeiros momentos o Universo contrariou as leis de Einstein deve ser mencionado porque, ao que tudo indica, isso não acontece com muita freqüência.
Minutos depois a temperatura do Universo cai e acontece a formação do núcleo atômico. Surge o hidrogênio. Alguns átomos de hidrogênio se fundem formando o hélio.
Um bilhão de anos depois do surgimento do hidrogênio e do hélio, aparecem as primeiras estrelas e elementos como o nitrogênio, o oxigênio e o carbono são produzidos.
Passados nove bilhões de anos a matéria e a gravidade resolvem se combinar e formam uma estrela perfeita. A pressão no núcleo desta estrela é tão grande que gera calor e isso faz com que aconteça um troço chamado fusão termo-nuclear. Em volta desta estrela se forma um disco de poeira estelar, que se expande formando planetas e luas.
Um dos planetas que se formaram através deste processo foi a Terra, que muito tempo depois do seu nascimento se resfriou e acumulou água em estado líquido em sua superfície. E nas profundezas desta água acumulada na superfície terrestre aconteceram reações químicas que até hoje ninguém conseguiu entender muito bem e que geraram vida.
Agora, treze bilhões de anos depois daquela explosão, cá estamos nós, vivendo graças a esta série de eventos e desfrutando dos resultados dela. E, de certa forma, é como se a evolução destes bilhões de anos pesasse sobre os ombros de cada ser humano.
Não é estranho pensar que foram necessários mais de treze bilhões de anos para que um adolescente pudesse alardear nas redes sócias sobre o tédio que sente? Não causa um certo incômodo constatar que incontáveis reações químicas aconteceram no interior de estrelas longínquas para que religiosos pudessem distorcer palavras de fé e as transformassem em apologia ao ódio e discriminação? Não nos coloca numa posição desconfortável pensar em toda a energia e pressão necessária para que núcleos se fundissem e que um dos resultados deste processo – ainda que um resultado secundário – é um ser humano que aceita um trabalho desgastante e uma vida insatisfatória? Visualizar o planeta Terra se formando a partir de poeira estelar para que, bilhões de anos depois, a vida que surgiu e evoluiu neste planeta usasse seus recursos de maneira irresponsável, devastando-o como se não dependesse dele para viver, não nos faz ver o ser humano sob um olhar mais crítico? Encarar todo o processo que aconteceu para que a vida surgisse na Terra, a evolução até o ser humano atual, não nos faz refletir que ter como propósito de vida ser entretido e levar uma vida em vão é simplesmente inaceitável?
Pelo menos é este o efeito que causa em mim.
Encarar todo o processo que aconteceu desde aquela diminuta explosão até os dias de hoje me trás esta sensação de que todo ser humano deveria viver de maneira a se colocar à altura de todo este processo.
Talvez este seja um sentimento ingênuo – como um amontoado de carbono que anda e fala poderia se colocar à altura da formação de um Universo inteiro? – e sem nenhum fim prático. Mas, mesmo que não seja uma experiência fácil ou reconfortante, ou mesmo útil, de vez em quando é bom lembrar que foram necessários mais de treze bilhões de anos, incontáveis reações químicas e uma quantidade incalculável de energia para que pudéssemos estar aqui agora.