terça-feira, 4 de junho de 2013

O Azarão


AVISO:
Isto não é uma resenha, uma crítica ou qualquer troço do gênero. Não quero a responsabilidade de escrever um texto analisando um livro (assim como não quero tantas outras responsabilidades).

E dito isto estou habilitada a escrever a babaquice que eu quiser


“Uma coisa está para acontecer. Estava lá fora, em alguma parte além da vidinha limitada de sempre. Estava lá fora; não que me esperasse, mas existia. Era. Talvez estivesse só imaginando se eu ia alcança-la.”


Quanto mais você lê, mais exigente você fica. Quanto mais livros você devora, mais seletivo você fica com os próximos que vai ler. E quanto mais ficção você consome, mais ficção você quer consumir.

Eu tinha terminado de ler Mochileiro Aprendiz Aventureiro (livro autobiográfico que conta a história de um brasileiro fazendo suas brasileirices para sobreviver em Londres), e, como não tinha mais livro nenhum, terminei de ler o A Culpa é das Estrelas (livro que eu tinha desistido de ler e que vou me abster de fazer qualquer comentário). Tudo isso no mesmo dia, porque o movimento na loja estava morto e eu tive muito tempo livre. E foi aí que bateu o desespero de não ter livro nenhum e de ter mais três horas pela frente.

Impulsionada pela crise abstinência, desci até a livraria Nobel e lá entrei disposta a gastar os tubos desde que recebesse em troca uma porção consistente e considerável de ficção.

A vendedora que sempre me atende lá é muito simpática (ela acha que eu tenho cara de quem gosta de livros tipo Clube da Luta. Por que será?), logo que eu entrei na livraria ela perguntou o que eu estava procurando e eu cretinamente respondi “um livro”. Aí começou a via sacra de “tem tal livros? Não, este acabou. Tem aquele outro? Não, a procura foi muito grande, mas tem este aqui que acho que você vai gostar”. Sem brincadeira nenhuma, TODO livro que eu perguntei se tinha, não tinha.

Fiquei zanzando pela livraria enquanto a vendedora me oferecia um livro depois do outro e nenhum deles me dava aquela fissura de querer comer uma página depois da outra.

Acabei na estante da letra Z (os livros são organizados por ordem alfabética do sobrenome do autor), fui lá ver se tinha algum do Zafón que eu ainda não tinha lido. E foi quando minha mão esbarrou num livro do Zusak: O Azarão.

Se você ficou até às seis horas da manhã lutando para ler o final de A Menina que Roubava Livros enquanto seus olhos insistiam em se encher de lágrimas, então você sabe que Markus Zusak escreve pra caramba.

Eu já tinha visto O Azarão à venda na internet e nunca tinha me interessado, mas dado o meu desespero o livro pareceu caído do céu (e, de fato, foi mesmo).

O Azarão, o primeiro de uma trilogia, conta a história de um moleque, Cameron Wolfe, de 15 anos que zanza por aí tentando se achar e fazendo algumas besteiras enquanto isso. O livro lembra um pouco O Apanhador no Campo de Centeio e Outsiders, mas eu nem vou me aprofundar muito nessa comparação simplesmente porque toda comparação tende a ser injusta com os comparados (e porque comparação é um troço idiota mesmo, mas eu continuo fazendo).

E é surpreendente a simplicidade e a profundidade com que Zusak conta a história deste moleque. A gente sempre acha que uma boa história é inevitavelmente fruto de uma ideia mirabolante, mas O Azarão é um livro sobre um cara normal que mais de uma vez admite ser medíocre, e apesar de uma história super comum o livro é extraordinário – algo que só quem escreve absurdamente bem consegue fazer.

Resumo da ópera: 24 reais e uns quebrados muito bem gastos e a crise de abstinência vencida, o que mais eu poderia pedir de um livro?