AVISO:
Isto não é uma resenha, uma crítica ou qualquer troço do
gênero. Não quero a responsabilidade de escrever um texto analisando um livro
(assim como não quero tantas outras responsabilidades).
E dito isto estou habilitada a escrever a babaquice que
eu quiser
“Uma
coisa está para acontecer. Estava lá fora, em alguma parte além da vidinha
limitada de sempre. Estava lá fora; não que me esperasse, mas existia. Era.
Talvez estivesse só imaginando se eu ia alcança-la.”
Quanto
mais você lê, mais exigente você fica. Quanto mais livros você devora, mais
seletivo você fica com os próximos que vai ler. E quanto mais ficção você consome,
mais ficção você quer consumir.
Eu
tinha terminado de ler Mochileiro Aprendiz Aventureiro (livro autobiográfico
que conta a história de um brasileiro fazendo suas brasileirices para
sobreviver em Londres), e, como não tinha mais livro nenhum, terminei de ler o
A Culpa é das Estrelas (livro que eu tinha desistido de ler e que vou me abster
de fazer qualquer comentário). Tudo isso no mesmo dia, porque o movimento na
loja estava morto e eu tive muito tempo livre. E foi aí que bateu o desespero
de não ter livro nenhum e de ter mais três horas pela frente.
Impulsionada
pela crise abstinência, desci até a livraria Nobel e lá entrei disposta a
gastar os tubos desde que recebesse em troca uma porção consistente e considerável de
ficção.
A
vendedora que sempre me atende lá é muito simpática (ela acha que eu tenho cara
de quem gosta de livros tipo Clube da Luta. Por que será?), logo que eu entrei na
livraria ela perguntou o que eu estava procurando e eu cretinamente respondi “um
livro”. Aí começou a via sacra de “tem tal livros? Não, este acabou. Tem aquele
outro? Não, a procura foi muito grande, mas tem este aqui que acho que você vai
gostar”. Sem brincadeira nenhuma, TODO livro que eu perguntei se tinha, não
tinha.
Fiquei
zanzando pela livraria enquanto a vendedora me oferecia um livro depois do
outro e nenhum deles me dava aquela fissura de querer comer uma página depois da
outra.
Acabei
na estante da letra Z (os livros são organizados por ordem alfabética do
sobrenome do autor), fui lá ver se tinha algum do Zafón que eu ainda não tinha
lido. E foi quando minha mão esbarrou num livro do Zusak: O Azarão.
Se
você ficou até às seis horas da manhã lutando para ler o final de A Menina que
Roubava Livros enquanto seus olhos insistiam em se encher de lágrimas, então
você sabe que Markus Zusak escreve pra caramba.
Eu
já tinha visto O Azarão à venda na internet e nunca tinha me interessado, mas
dado o meu desespero o livro pareceu caído do céu (e, de fato, foi mesmo).
O
Azarão, o primeiro de uma trilogia, conta a história de um moleque, Cameron Wolfe, de 15 anos que zanza por
aí tentando se achar e fazendo algumas besteiras enquanto isso. O livro lembra
um pouco O Apanhador no Campo de Centeio e Outsiders, mas eu nem vou me
aprofundar muito nessa comparação simplesmente porque toda comparação tende a
ser injusta com os comparados (e porque comparação é um troço idiota mesmo, mas eu continuo fazendo).
E
é surpreendente a simplicidade e a profundidade com que Zusak conta a história
deste moleque. A gente sempre acha que uma boa história é inevitavelmente fruto
de uma ideia mirabolante, mas O Azarão é um livro sobre um cara normal que mais
de uma vez admite ser medíocre, e apesar de uma história super comum o livro é
extraordinário – algo que só quem escreve absurdamente bem consegue fazer.
Resumo
da ópera: 24 reais e uns quebrados muito bem gastos e a crise de abstinência
vencida, o que mais eu poderia pedir de um livro?