sábado, 7 de setembro de 2013

A razão


AVISO:
Este texto abdica da obrigação de fazer sentido

AVISO 2:
O texto deste post é purpurina tentando soar como cimento


E feitos os esclarecimentos acima, agora estou livre pra postar a bobagem que eu quiser



Às vezes eu tenho a sensação de que colocaram uma surdina no mundo, como se uma substância ou circunstância maléfica abafasse e homogeneizasse tudo: as pessoas, os sonhos, as aspirações, forçando todos a se contentarem em seguir um modelo pré-estabelecido.


Neste mundo amaldiçoado aonde todos se adequam ao molde, as pessoas vão todas abandonando as cores e adotando os tantos tons de cinza. No fim acabam meramente existindo, sobrevivendo, terminam todas como atores amadores, escritores nas horas vagas, atletas de fim de semana e músicos em rodas de amigos mesmo tendo talento para ser bem mais que isso. A eterna parábola da pulga dentro da tupperware tendo seus saltos limitados pela tampa, o elefante de circo amarrado ao banquinho, o obstáculo imposto e irreal.  

Em resposta a esta apatia generalizada, o sistema imunológico universal está a todo o momento gerando anticorpos. E então, por obra divina ou aparente acaso, as nuvens se dissipam e algo te atinge, te acorda da letargia. Uma réplica de um da Vinci exposta em uma sala propositalmente gelada, uma passagem de livro que você acaba relendo incontáveis vezes, uma cena tão bem escrita que você se pergunta como nunca pensou nisso antes, a mensagem dos deuses presa numa fotografia, um vocalista berrando um refrão que diz que “tudo o que precisamos é de uma razão”, que “tudo o que precisamos está dentro de nós”. Você nem sabe que estas são formas dos anticorpos universais, mas eles causam o efeito que têm que causar, eles fazem algo queimar em você, uma ideia, uma inspiração, um incômodo causado pela constatação de que você não está sendo você, e então a reação acontece. E daquele momento você não consegue mais deixar de ser você mesmo em tempo integral, os moldes e convenções perderam a validade, você está livre. 

Talvez (e este "talvez" nada mais é que modéstia simulada) cada um de nós devesse seguir o conselho do Bukowski: encontrar algo que ama e deixar isso nos mate, e talvez nesta morte encontrássemos vida. Afinal, como o próprio velho safado, bêbado e fodido disse, a "sua vida é sua vida", então "não deixe que ela seja esmagada em fria submissão".

Twitter: @robertagrassi
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