Meu dia começa com café e a via sacra por e-mails e redes sociais. O que aconteceu enquanto eu dormia? Durante este tempo alguém tentou falar comigo? Nada aconteceu e ninguém quis falar comigo, mas a sensação é que meu dia não começaria se eu não verificasse.
Mesmo que nada tenha sido escrito especificamente para mim eu continuo lendo. Alguém dispara um “bom dia para todo mundo”. Eu não respondo. Uma sequência quase infinita de Ks apresenta um vídeo que eu nem acho tão engraçado assim. Alguém manda um link do novo pôster de qualquer lançamento do ano que vem. Outro alguém reclama do trânsito. “Vai chover? Não pode chover hoje”. Mas vai. A coisa segue assim. Até que no meio do jorro contínuo de pensamentos soltos e à própria sorte eu esbarro em uma indireta e estanco a enxurrada de informações.
Redes sociais são o reino das indiretas. Minha mente é o reino do egocentrismo. O resultado disso é a paranoia de que qualquer indireta possa ser para mim.
O que eu teria feito para receber esse xingamento jogado na diagonal e que pretende atingir seu alvo com ares de acaso? Eu não fiz nada, pelo menos não me lembro de nada. Espera, eu nem conheço a pessoa que disparou a indireta, então a indireta não pode ser para mim. Espera mais uma vez, eu estou usando a internet para acompanhar a vida de uma pessoa que eu nem conheço? A resposta é “sim, eu estou fazendo exatamente isso”. Mas eu tenho minha consciência tranquila, eu só sei da vida deste estranho o que esse estranho permite que os que são estranhos a ele saibam.
Consciência limpa.
E de repente escuto ecos de Tyler Durden na minha mente: “esta é sua vida, se esvaindo um minuto de cada vez”. E enquanto minhas células morrem e outras nascem para ocupar o lugar das mortas e a gravidade trabalha para manter todas essas células juntas, eu ocupado espaço e gasto tempo lendo o que outros fizeram ou deixaram de fazer.
Mas espera, pela terceira vez. Não há nada de errado nisso. Afinal é isso que é a internet, certo? Um laço de solidariedade online. Uma sequência infinita de números binários que conecta os exemplares de nossa espécie em uma rede invisível. Além disso, eu e o entranho da indireta que não era pra mim compartilhamos o mesmo gosto musical, gostamos dos mesmos filmes, torcemos para o mesmo time, nós poderíamos ser amigos se morássemos perto.
Não. Eu e o estranho do qual acompanho os passos nas redes sociais não seriamos amigos se morássemos perto, porque eu mal falo com meus vizinhos, na verdade eu odeio a maioria deles.
Mas por que é que eu estou perdendo tempo com esta linha de raciocínio?
Decido colocar este assunto de lado, ruminar este tipo de coisa só vai arruinar o meu dia. Continuo de onde eu parei: a indireta que era para sei lá quem.
Daí para frente fico sabendo como está o humor de alguns conhecidos, o que gente com quem eu não convivo mais anda fazendo, notícias sobre política, esporte e cultura, e fico sabendo o que aconteceu com amigos que eu deveria ter telefonado para saber como estão.
Lembro que assisti um filme na noite anterior e que enquanto tentava dormir o filme ficou martelando no meu cérebro. Por alguma razão nada lógica, sinto uma urgência em disseminar minha opinião sobre o filme. Mas mesmo com a urgência em falar, não quero dizer besteira, então recorro ao Google para coletar o maior número de informações sobre o filme que assisti. Depois de alguns cliques o impacto que o filme causou em mim está soterrado embaixo da opinião de gente que sabe mais do que eu e de todos os dados que eu coletei, e eu estou pronta para sair alardeando sobre o filme sem parecer uma fã histérica ou uma caipira.
Diluo minha opinião em 2 partes de “aceitável”, ¾ da opinião de entendidos no assunto em questão e me permito expressar o que eu penso em apenas ¼ da terça parte de tudo isso. Distribuo essa mistura em porções de 140 caracteres e as gaguejo na timeline de quem me segue, linkando um fragmento de pensamento ao outro com sinais de mais e expressões como “além disso”. Da timeline a coisa toda se duplica para o mural do facebook, se tiver sorte ganho um RT ou dois, um polegarzinho para cima e algum reply.
Algumas horas depois o assunto, os fragmentos de pensamento linkados com sinais de mais e a repercussão que eles causaram já morreu e qualquer menção a eles tem gosto de comida amanhecida e requentada.
Não me leve a mal. Eu não saberia viver sem internet (quer dizer, até saberia, mas ia fazer um drama lazarento se tivesse que viver sem) e estou aprendendo que as redes sociais servem pra muita coisa além de postar fotos pseudo artísticas e gorfar frases de efeito. Mas é que às vezes me vem essa insatisfação generalizada que me faz querer refutar tudo que é superficial e então quero escrever dezenas de páginas sobre o mesmo assunto e ter a certeza de que alguém vai ler. Às vezes imagino como seria conversar por duas horas sem nenhuma vez recorrer a clichês e futilidades para manter a conversa fluindo. Porque às vezes um RT não é o suficiente para saber que você foi ouvido. E às vezes eu quero menos irrelevância.
Mesmo que nada tenha sido escrito especificamente para mim eu continuo lendo. Alguém dispara um “bom dia para todo mundo”. Eu não respondo. Uma sequência quase infinita de Ks apresenta um vídeo que eu nem acho tão engraçado assim. Alguém manda um link do novo pôster de qualquer lançamento do ano que vem. Outro alguém reclama do trânsito. “Vai chover? Não pode chover hoje”. Mas vai. A coisa segue assim. Até que no meio do jorro contínuo de pensamentos soltos e à própria sorte eu esbarro em uma indireta e estanco a enxurrada de informações.
Redes sociais são o reino das indiretas. Minha mente é o reino do egocentrismo. O resultado disso é a paranoia de que qualquer indireta possa ser para mim.
O que eu teria feito para receber esse xingamento jogado na diagonal e que pretende atingir seu alvo com ares de acaso? Eu não fiz nada, pelo menos não me lembro de nada. Espera, eu nem conheço a pessoa que disparou a indireta, então a indireta não pode ser para mim. Espera mais uma vez, eu estou usando a internet para acompanhar a vida de uma pessoa que eu nem conheço? A resposta é “sim, eu estou fazendo exatamente isso”. Mas eu tenho minha consciência tranquila, eu só sei da vida deste estranho o que esse estranho permite que os que são estranhos a ele saibam.
Consciência limpa.
E de repente escuto ecos de Tyler Durden na minha mente: “esta é sua vida, se esvaindo um minuto de cada vez”. E enquanto minhas células morrem e outras nascem para ocupar o lugar das mortas e a gravidade trabalha para manter todas essas células juntas, eu ocupado espaço e gasto tempo lendo o que outros fizeram ou deixaram de fazer.
Mas espera, pela terceira vez. Não há nada de errado nisso. Afinal é isso que é a internet, certo? Um laço de solidariedade online. Uma sequência infinita de números binários que conecta os exemplares de nossa espécie em uma rede invisível. Além disso, eu e o entranho da indireta que não era pra mim compartilhamos o mesmo gosto musical, gostamos dos mesmos filmes, torcemos para o mesmo time, nós poderíamos ser amigos se morássemos perto.
Não. Eu e o estranho do qual acompanho os passos nas redes sociais não seriamos amigos se morássemos perto, porque eu mal falo com meus vizinhos, na verdade eu odeio a maioria deles.
Mas por que é que eu estou perdendo tempo com esta linha de raciocínio?
Decido colocar este assunto de lado, ruminar este tipo de coisa só vai arruinar o meu dia. Continuo de onde eu parei: a indireta que era para sei lá quem.
Daí para frente fico sabendo como está o humor de alguns conhecidos, o que gente com quem eu não convivo mais anda fazendo, notícias sobre política, esporte e cultura, e fico sabendo o que aconteceu com amigos que eu deveria ter telefonado para saber como estão.
Lembro que assisti um filme na noite anterior e que enquanto tentava dormir o filme ficou martelando no meu cérebro. Por alguma razão nada lógica, sinto uma urgência em disseminar minha opinião sobre o filme. Mas mesmo com a urgência em falar, não quero dizer besteira, então recorro ao Google para coletar o maior número de informações sobre o filme que assisti. Depois de alguns cliques o impacto que o filme causou em mim está soterrado embaixo da opinião de gente que sabe mais do que eu e de todos os dados que eu coletei, e eu estou pronta para sair alardeando sobre o filme sem parecer uma fã histérica ou uma caipira.
Diluo minha opinião em 2 partes de “aceitável”, ¾ da opinião de entendidos no assunto em questão e me permito expressar o que eu penso em apenas ¼ da terça parte de tudo isso. Distribuo essa mistura em porções de 140 caracteres e as gaguejo na timeline de quem me segue, linkando um fragmento de pensamento ao outro com sinais de mais e expressões como “além disso”. Da timeline a coisa toda se duplica para o mural do facebook, se tiver sorte ganho um RT ou dois, um polegarzinho para cima e algum reply.
Algumas horas depois o assunto, os fragmentos de pensamento linkados com sinais de mais e a repercussão que eles causaram já morreu e qualquer menção a eles tem gosto de comida amanhecida e requentada.
Não me leve a mal. Eu não saberia viver sem internet (quer dizer, até saberia, mas ia fazer um drama lazarento se tivesse que viver sem) e estou aprendendo que as redes sociais servem pra muita coisa além de postar fotos pseudo artísticas e gorfar frases de efeito. Mas é que às vezes me vem essa insatisfação generalizada que me faz querer refutar tudo que é superficial e então quero escrever dezenas de páginas sobre o mesmo assunto e ter a certeza de que alguém vai ler. Às vezes imagino como seria conversar por duas horas sem nenhuma vez recorrer a clichês e futilidades para manter a conversa fluindo. Porque às vezes um RT não é o suficiente para saber que você foi ouvido. E às vezes eu quero menos irrelevância.
@robertagrassi
"Redes sociais são o reino das indiretas. Minha mente é o reino do egocentrismo."
ResponderExcluirnisso eu concordo, até pq sofro do mesmo mal... rs
agora... qdo comecei a ler, eu já imaginava do q seria, vc sempre tem uma puta critica q ao mesmo tempo fico pensando no q vc diz, me divirto...
muito foda...
vc SEMPRE concorda c/ o egocentrismo
ResponderExcluir"uma puta crítica... divertida", se mudar a ordem das palavras danou-se hahahaha
hahahahahahahaha
ResponderExcluirnão tinha reparado isso, mas sempre concordo c/ o egocentrismo!!!
Realmente os questionamentos iniciais assolam a todos nós diariamente. Passamos um bom tempo vendo se falaram de nós, se pensaram em nós...
ResponderExcluirSer natural em vez de preocupar-se em manter o papo rolando é o desafio que poucos desejam enfrentar.
E finalizou a crítica com um Knock Down nos hipócritas: um RT não é o suficiente para saber que você foi ouvido.
Parabéns, o melhor texto que li no ano, sinceramente. Nunca li algo com tanta facilidade de compreensão e sarcasmo delirante.
Se é um super blog é porque possui uma super gerenciadora.
Tchau!
@LLArruda
E sem internet a impressão q dá é q nao estamos no mundo real(como é isso?Precisamos do virtual para ser real?caramba eu não tinha pensado nisso!rs).Sim, se não nos leem não é igual e eu já tentei escrever pra mim mesma e me fechei em meu blog sozinha mas não deu certo(ter um blog só pra vc e muito chato viu?rs) Então reabri e fechei os comentários pra nao ter a neura de estar contando quantos vieram alí, mas nao consergui ficar sem esta neura pois o grande barato é ter pessoas...é ler pessoas é saber de pessoas...A internet só e tão interessantes por conta das pessoas e tudo q nelas contém...rs...Adorei seu texto.
ResponderExcluirBeijo