AVISO:
Só para variar um pouco, hoje eu “to revolts e não to de brinks”.
AVISO 2:
É pedir demais que alguém que está no estado de “revolts” e não está de “brinks” seja totalmente coerente (ou até mesmo um pouco coerente).
E dito isso agora eu estou livre para dizer a besteira que eu quiser e bem entender.
Se você tem acesso ao facebook e ao twitter então todo dia você se depara com alguém “lutando” por alguma “causa”. Todo bendito dia tem alguém compartilhando a imagem de um gato sendo esfolado ou um tuite inflamado denunciando alguma injustiça. Não lembro de quem é a expressão “a revolta com a bunda no sofá”, mas penso que é exatamente isso que esse pessoal está tentando fazer.
Vai ver que na cabeça de quem compartilha essas imagens ou xinga muito uma injustiça no twitter, o impacto e a revolta que isso causa por si só já resolve o problema. É como se fazer piada sobre a Dilma ou o Alckmin resolvesse todos os problemas políticos, como se floodar a timeline ou a caixa de e-mail de seus conhecidos com imagens que tem o poder de revirar até os estômagos mais forte pudesse por fim em todas as barbáries cometidas no mundo.
Mas pode ter certeza de uma coisa: isso só funciona na cabeça de quem faz isso, na vida real uma mudança requer muito mais do que uns cliques.
Com a revolta sendo esfregada na minha cara (e na minha timeline e no meu mural) e latejando na minha mente, juntei 7 filmes que me fizeram querer começar uma revolução. É, eu sei, é quase tudo ficção e a revolução que eles me inspiraram ficou só na vontade, mas vai que de repente este post convence alguém a ser a grande mudança. Nunca se sabe.
A BATALHA DE SEATTLE
O filme conta o que aconteceu no dia 30 de novembro de 1999, quando ecologistas, anarquistas, trabalhadores sindicalizados, estudantes, pacifistas e humanistas tomaram as ruas de Seattle para protestar contra a reunião da Organização Mundial do Comercial.
Entre ambientalistas chamando a atenção para a degradação ambiental resultante das políticas desenvolvimentistas estatais e privadas, humanistas indo contra políticas neoliberalistas alegando que ela é uma ameaça aos direitos humanos, sindicalistas achando que aquele era um momento propício para lutar pelos direitos trabalhistas, anarquistas vendo na reunião da OMC a ocasião perfeita para mostrar o repúdio ao capitalismo globalizados, pessoas que não estavam manifestando contra nada e só tiveram a má sorte de estar em Seattle no dia das manifestações e policiais que tinham como ordem do dia manter a cidade em ordem, a coisa toda vai degringolando até Seattle terminar em estado de sítio.
"A Batalha de Seattle" recebeu algumas críticas descendo o sarrafo na dramatização de tudo, mas, para todos os efeitos, o filme deixa uma mensagem bem clara: você pode não estar fazendo nada, mas tem gente que está.
PASSANDO DOS LIMITES
David Owen ama Nova York, mas odeia o barulho da cidade. Ele odeia tanto o barulho que em um ataque de nervos ele começa a destruir carros que disparam seu alarme no meio da noite. Graças a esse hábito de destruir as fontes dos barulhos que o levam a um ataque de nervos, David vai parar na cadeia. Mas em vez de tomar jeito, quando volta às ruas, ele assume a identidade do “Retificador” e trava uma batalha contra o barulho.
Fala a verdade, você já não quis destroçar o carro daquele vizinho que no meio da noite começou a berrar que “este veiculo está sendo roubado”?
Em um dos momentos mais geniais, o Retificador fala com quem está assistindo o filme:
“Parece divertido, não? Mas sou eu que estou fazendo, não você. Ah Você acha que é fácil pra mim? Que eu sou só ficção? Talvez. Mas meu sofrimento também é. O seu é de verdade. E você fica aí sentado.”
CLUBE DA LUTA
Sou meio suspeita pra falar deste filme. Ele é um dos meus favoritos e eu vivo torrando a paciência de todo mundo por causa dele. Revolução que começa nas ideias e termina na explosão de um centro financeiro é bem o meu tipo de história. E eu realmente concordo com Tyler Durden quando ele diz “você não é seu emprego, você não é o quanto de dinheiro que você tem no banco, você não é o carro que você dirige”.
Que atire o primeiro sabonete quem nunca quis tomar uma atitude extrema para mostrar sua insatisfação.
EDUKATORS
Filme alemão sobre dois caras que acham que podem mudar o mundo protestando de uma forma pacifica e simples: eles entram em mansões mudam móveis e objetos de lugar e deixam uma carta com mensagem de protesto.
Esse filme é responsável por reestabelecer minha fé na existência de vida inteligente em Guarulhos. Alguma boa alma pichou no muro do supermercado Lopes Macedo “seus dias de fartura estão contados” – que era a mensagem de protesto que eles deixam na carta – e ainda fez questão de deixar o A de fartura bem evidente, lembrando um certo símbolo.
O QUE FAZER EM CASO DE INCÊNDIO
Na Berlim da década de 80, seis amigos ocupam um prédio e desafiam as autoridades públicas, vivendo num espécie de comunidade anarquista. O tempo vai passando e todos eles mudam, deixando para trás a rebeldia e o estilo de vida. Até que, quinze anos depois, uma bomba caseira que eles plantaram em uma mansão abandonada explode e o grupo tem que se reunir para tentar eliminar as provas que os incriminam pela explosão.
E tá aí a razão pela qual eu não vou ter filhos, eu nunca vou poder dizer “mamãe foi anarquista”, “mamãe desafiou as autoridades públicas”. Eu poderia dizer “mamãe viu a estreia de Lost” ou “mamãe viveu numa época sombria em que nem todo mundo tinha telefone celular”, mas eu nunca vou poder dizer que eu afrontei as autoridades. E como você incentiva seu filho a lutar pelo que ele acredita se você mesmo nunca fez isso?
DEFENDOR
Para todo mundo Arthur Poppington é só um lunático, mas ele acredita ser um super-herói e desenvolve uma identidade secreta: “Defendor”. Armado com artilharia não convencional e sem medo de arriscar a própria vida, ele patrulha as ruas da cidade à noite em busca do seu inimigo, que é um traficante de drogas e armas a quem ele culpa pela morte da sua mãe.
Aos poucos a “loucura” de Arthur passa a mudar a vida das pessoas, provando que mais lunáticos como ele fariam um bem enorme ao mundo.
Só para constar: Woody Harrelson vive um lunático como poucos e está ótimo na pele de Denendor.
KICK-ASS
Você provavelmente já viu o filme e já sabe sobre o que fala a história. E vou me apropriar das palavras do Kick-ass para concluir este post (e quem sabe assim dar sentido a ele):
Eu queria saber por que ninguém nunca fez isso antes de mim. Quero dizer, todas as revistas em quadrinhos, filmes e seriados. Isso te faz pensar por que ninguém fez uma fantasia e vestiu. A vida diária é tão excitante, as escolas e escritórios são tão legais, que eu sou o único que pensou sobre isso? Qual é. Sejamos honestos. Em algum ponto de nossas vidas nós todos já desejamos ser super-heróis.
Como a maioria das pessoas da minha idade, eu simplesmente existia.
Eu nunca fui mesmo um super-herói. O máximo que eu tinha para oferecer ao mundo era boas intenções e a capacidade de aguentar tomar uma surra.
Sem poderes não temos responsabilidades. Exceto que isso não era verdade.
As revistas em quadrinhos estavam erradas. Não era preciso uma trama e raios cósmicos ou um anel de poder para criar um super-herói. Apenas a perfeita combinação de otimismo e inocência.