segunda-feira, 9 de abril de 2012

Os Portões do Palácio

O Rei se levantou do trono para polir sua coroa. Ela é feita dos mais limpos papéis amassados, reluzente e cravejada pelos enfeites que pôde encontrar no caminho. Todo um reino a controlar, tão pouco tempo se tem, as horas passam tão veloz quanto os duelos entre cavaleiros. Ah, o que seria deste reino sem este Rei? Seus súditos apressam-se em poder ouvi-lo, a multidão espera por um breve momento em que possa vê-lo, mesmo que por meros segundos.

Do alto da mais alta torre, ele contempla todo seu império conquistado com muito suor. É digno de vastos pensamentos que parecem aumentar ainda mais todo o território já conquistado. Ele sorri. Seu reino é justo, não há guerra, ou fome. Trata as pessoas por igual, sejam simples aldeões, sejam bispos e condes. Há muito motivos para se orgulhar do que tem, mas há pouco tempo para se apreciar tanta beleza.

A masmorra é a mais alta torre do palácio, onde o Rei está preso. Ele pregou a igualdade, foi contrariado pelos nobres e decidido que seria trancafiado e seu parente mais próximo, um ambicioso conde, ficaria no poder, elevando as taxas e elitizando ainda mais o estilo de vida da nobreza. Ah como é injusto pensar que este mundo é que é o mundo real e que um Rei que poderia mudar o mundo, agora vive preso, drogado em seus devaneios, acreditando que tudo é como sempre quis que fosse.

O Rei não tem como fugir. As paredes são grossas. Barras de ferro na janela. Foi dado como morto. Poucos sabem quem vive na masmorra, ainda menos pessoas tem acesso a ela. Mas o rei vive feliz, ele sorri, suas gargalhadas são contagiantes. Ele ainda vive no seu mundo de igualdade, não percebe que está preso e só há muitos anos. Não percebe que perdeu sua razão, mas vê seu reino, ainda limpa sua coroa feita dos restos que encontrou naquela prisão, ainda encontra forças para sonhar e viver em seu mundo, em seu infinito particular, onde o cetro e o manto sagrado são de veludo e não de restos de roupas rasgados. Ainda é o mesmo Rei que sonhou com a igualdade, mas que o poder da nobreza o impediu de levar adiante um sonho onde a nobreza, clero e plebeus fossem realmente iguais. Pobre Rei. Viveu uma utopia, adormeceu e acordou encarcerado, até o fim de seus dias, e, nunca mais ouvi-se falar da igualdade entre as três classes. Pobre Rei que pereceu séculos atrás. Pobre de nós que nunca pudemos escutá-lo.

4 comentários:

  1. Sabe o que eu imaginei lendo este texto? Como se ele se passasse em nós mesmos. Nós somos ao mesmo tempo o Rei e o ambicioso conde. A torre,nossa mente.E lá fica a masmorra onde podemos ficar presos. Temos nosso lado Rei : idealizador,igualitário,justo,que sabe conquistar com dignidade. Mas também temos nosso lado conde :parente próximo do Rei,mas tão diferente dele,seu oposto. A qual nós daremos ouvidos? Qual nós seguiremos? Parece óbvio demais dizer ‘o Rei’,pelas suas virtudes. Porém,nem sempre ele será nossa escolha. Muitas vezes vamos aprisioná-lo na masmorra de nossa inconsciente (ou consciente...) e podemos optar até mesmo por deixá-lo lá. Se nossos paradigmas sufocantes (as paredes grossas) e nossas crenças limitantes (as barras de ferro) forem tão enraizados a ponto de não deixar que ele saia. Então viveremos num estado de autoengano que nos escraviza. Cabe a nós darmos ouvidos ao Rei e tirarmos de lá. Existe um jeito. Sempre há.A escolha é somente nossa.
    Depois que li e reli,porém,outros tipos de interpretação me acometeram.Mas optei por compartilhar essa.Posso ter delirado,mas foi isso que me ocorreu.
    Brilhante texto,como sempre,que faz minha mente viajar...

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    1. a idéia era essa mesma... ver a interpretação de cada um em cima disso... e tive a idéia desse texto, ouvindo yellowcard... foi mto foda!!!!!

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    2. Por acaso a musica q te inspirou foi Avondale?

      YC eh mto foda e inspirador. Ontem terminei um conto inspirado em Rough landing, holly e Space travel, a historia tava todia nas musicas, eu aoh tive q dar o meu toque morbido hahahahah

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    3. HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
      fã de YC saca na hr ql q é, né...
      como tinha um tempo q não atualizavamos aqui, fiquei ouvindo avondale e tive essa idéia...

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