segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Roteiros

Há um momento em que se questiona a própria existência humana. Nem mesmo a teoria da evolução é mais capaz de explicar até onde podemos realmente chegar, se é que realmente chegaremos, nem ao menos estaremos lá para conferir essa evolução das espécies. Mas e se nada disso é real?

E se você que está lendo, na realidade nunca existiu, nem eu que escrevo estou realmente aqui... pode ser que tudo isso seja apenas imaginário, então nunca estivemos em qualquer lugar que acreditamos ter ido. A mente é poderosa, Nos envolve em tramas, nos leva a duvidar, nos faz acreditar. Mas você pode ter certeza do que realmente é real? E se ao abrir os olhos, apenas uma vaga lembrança de alguém escrevendo, outras pessoas que estavam lendo, pensando se realmente aconteceu, se aquilo tudo não passou de imaginação. 

Podemos estar mais próximos do que realmente queremos. Assim como podemos, talvez nem existir nessa ou em qualquer outra realidade ou plano astral. O quanto o toque, o sabor pode ser uma sensação verdadeira, ou apenas o inconsciente imaginário dizendo que é isso que deve sentir? Ao fechar os olhos, você ouve a sua voz? Lembra-se com clareza do minuto anterior? Pode ter a certeza que aquele minuto que passou, existiu mesmo? Nunca teve tanta certeza de estar em duvida. O real que um dia imaginou, pode estar além. Além do momento que não se pode ver. 

Toda essa conversa nunca existiu. Podem afirmar. Podem negar, ou questionar. Podem ir atrás das memórias frustradas de uma madrugada que não se tem certeza se o dia que passou foi real. Pode não saber se o que vai vir será mesmo verdadeiro. Mas afinal, quem é que quer saber o décimo passo, quando nem ao menos o primeiro é uma certeza? Entregue-se às suas duvidas. Questione a verdade, descubra onde ir de olhos vendados. A imaginação, pode ser tudo o que se tem. Você pode nunca ter existido e apenas imaginou que viveu, na imaginação de outra pessoa que também não tem certeza se um dia viveu de verdade, ou apenas dentro dos pensamentos de quem pensa no roteiro das vidas humanas.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

NANDEMONAI


Num fim de tarde do primeiro sábado de 2012, cheguei ao metrô Liberdade em São Paulo para encontrar a banda Nandemonai, para poder apresentar à vocês uma banda brasileira, amante do J-Rock.

Para falar como foi tudo isso, vamos começar pela descoberta. Ainda no começo do ano, eu olhava o facebook enquanto jogava qualquer coisa por lá, eis que uma amiga posta um vídeo da banda que ela canta, quando vi o nome da banda ("Nandemonai", traduzindo do japonês para o português, seria "qualquer coisa"), fui ver do que se tratava, assisti e fiquei impressionado, entrei em contato na hora com ela para saber da possibilidade de entrevistar a banda para apresentar aqui o trabalho de fãs de J-Rock que não apenas gostam do estilo, mas também aceitaram o desafio de tocar e introduzir no mercado brasileiro.

A banda foi formada ainda em 2010, passaram por várias formações, até se firmar com os membros atuais, Leo (guitarra base e fundador), Guilherme (guitarra solo), Rafael (baixo), Patricia Akemi (vocal), Gustavo (vocal) e Giovanni (bateria e fundador). Todos acabaram se conhecendo pelo orkut, onde conversavam descobriram todas as afinidades em comum. O gosto por animes, mangás e as bandas japonesas. Claro que cada membro da banda tem lá suas próprias preferências, mas em comum, X-Japan. E fiquei curioso em saber por que todos gostam tanto da banda e disseram q não apenas pela sonoridade, criatividade, mas pela importância deles no cenário japonês. O X-Japan é uma das bandas inspiradoras do Nandemonai.

Inicialmente cada um tinha um projeto paralelo, mas após um tempo resolveram se dedicar totalmente à Nandemonai. Todos trouxeram suas experiências anteriores para dentro, mas visando o mesmo sonho. Com um repertório bem diversificado tocam desde Nightmare, X-Japan, Dir En Grey, até mesmo sons mais tendentes ao J-Pop. A banda tem muitos gostos em comum quando falam sobre a cultura japonesa. Desde os mais famosos animes até os menos conhecidos, cada um demonstra um interesse, mas nem por isso divergem nas escolhas das músicas, a escolha do que vai ser tocado/ensaiado é sempre de maneira democrática e justa, todos dão sua opinião, sem "um líder", mas com todos podendo opinar. Uma democracia que funciona, existe muita amizade e acima de tudo respeito entre os membros da banda, que para este ano querem voltar a fazer apresentações, muito bom para quem gosta do estilo, assim podemos ouvir várias músicas de J-Rock, tocadas por fãs, assim como você que está lendo e eu que estou escrevendo.

Durante o papo com a banda, eles contaram desde o inicio das antigas formações que não deram certo até chegar nessa atual, onde todos já se sentem mais a vontade para opinar e após muitos ensaios eles já estão prontos para mostrar seu repertorio ao publico e assim levar um pouco do mundo deles para os palcos. É contagiante e muito animador conversar com eles, poder ver que sonhos podem e devem sim se realizar, porque de um encontro de pessoas distintas q em comum tinham o gosto pela cultura oriental, hoje são uma banda, muito bem preparada e prestes a ganhar seu espaço em shows, sejam de pequeno ou grande porte, é realmente muito bom conhecer uma banda assim.


E finalizando aqui, até porque o papo foi bem além do J-Rock, animes, mangás, acabamos falando até sobre jogos. Mas quem tiver a chance de ouvir, ouça. Vale à pena. Porque são exatamente como nós, mas acreditaram num projeto de mostrar nos palcos o que algumas bandas só mostram em alguns eventos, mas a disposição da Nandemonai é ir muito além disso. E gostaria de agradecer a toda a banda pela entrevista, em especial à Patricia Akemi que mostrou o seu trabalho e tornou tudo isso possível, muito obrigado! E vocês que estão lendo, ouçam as músicas deles!! E fiquem atentos aos shows da banda, o primeiro aconteceu no último sábado (28/07), e, esperamos que muitos outros shows venham por aí!!!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A musa e o Grande Irmão



AVISO:
Este texto foi anteriormente postado no blog do Social Rock Club.
Se você o leu lá, ignore-o aqui.

AVISO 2:
Dia 8 de junho fez 63 anos que 1984 foi lançado e dia 9 foi aniversário do Matt Bellamy, então achei oportuno publicar este post de novo.


 Para a grande maioria, a relação da banda Muse com a ficção se resume à trilha sonora dos filmes da série Crepúsculo (o que meio que estigmatizou a banda, já que a série de livros/filmes sobre os vampiros de Stephenie Meyer desperta o ódio na mesma proporção em que angariou fãs ardorosos). Mas uma olhada mais atenta e é fácil ver como a ficção vem inspirando a banda em suas músicas e clipes.

Tem como ver o clipe de Time is running out e não se lembrar do Dr Fantástico do Kubrick?


E de todas as vezes que o Muse buscou inspiração na ficção, nenhuma ficou tão evidente como no álbum The Resistance, de 2009 e atulhado de referências ao livro 1984 de George Orwell.

1984 foi publicado em 1949 e conta a história de Winston Smith, cidadão de uma sociedade oligárquica e coletivista, onde todos são observados de perto e contralados pelo Grande Irmão (em inglês Big Brother, e sim, foi de 1984 que saiu o termo que batizou aquela atrocidade televisiva).

“O Grande Irmão é onipotente. Cada sucesso, realização, vitória, descobrimento científico, toda sabedoria, sapiência, virtude, felicidade, são atribuídos diretamente à sua liderança e inspiração”.

Em meio a tanta repressão, Smith se depara com a insignificância de sua vida. Desiludido com sua existência miserável e consciente de que “respeitando as leis menores podia infringir as maiores”, ele começa uma rebelião contra o sistema.


Enquanto luta contra sua insignificância e contra o sistema, Smith se apaixona por Julia – um romance que vai contra as regras que sufocam Smith e que aos leitores mais desatentos pode parecer simplesmente mais um obstáculo para o personagem tropeçar e cair nas garras de seus opressores.

Matt Bellamy, vocalista e guitarrista do Muse, disse em entrevista que leu 1984 quando estava na escola e na época só prestou atenção aos aspéctos políticos da história, mas ao reler o livro anos depois foi a história de Smith e Julia que lhe causou maior impacto.

“Essa idéia de que o amor era o único lugar onde havia um pouco de liberdade. O ato de amar pode ser um ato político nesse tipo de cenário, como o único lugar onde o Estado não pode invadir sua privacidade.”

O impacto que a releitura de 1984 causou em Bellamy fica evidente em Resistance, segunda faixa do álbum. Ali estão todos os questionamentos de Winston – “será que nosso segredo está seguro esta noite?”, “ou será que nosso mundo está desmoronando?”, “isto pode estar errado, mas deveria estar certo” – e a convicção de que “Love is our resistance”.


 Em MK ULTRA Winston Smith e Julia lutam para manter seu relacionamento contra a pressão do Estado.

“O comprimento de onda cresce lentamente,
Noções coercivas se expandem novamente
Um universo preso em uma lágrima
Ressoa no núcleo,
Cria leis não-naturais
Substitui amor e felicidade por medo

Quanta decepção você pode suportar?
Quantas mentiras você criará?
Quanto tempo até você desmoronar?
Sua mente está perto do colapso”


 Como 1984 não foi escrito por Stephenie Meyer, o final feliz não é garantido. Winston e Julia são pegos pela Polícia do Pensamento, e é nesta altura do livro que Orwell deixa claro que é de dentro para fora que se destrói um indivíduo. Os dois são torturados e acabam delatando um ao outro. Diante da traição e da certeza de ter sido traído, Winston e Julia se separam e a rebelião de Winston chega ao fim.

Guiding Light, quinta faixa do álbum, retrata a desorientação e o vazio de Winston depois que a Polícia do Pensamento o libera.

“Você era minha luz orientadora

E o conforto e o aconchego não podem ser encontrados
Eu ainda procuro por você
Mas estou perdido, destruído, e gelado, e confuso
Sem uma luz orientadora”


O mais perturbador de 1984 é que, salvo alguns extremos, George Orwell conseguiu descrever bem a sociedade atual. “Hoje o que havia era medo, ódio, dor, porém nenhuma dignidade de emoção, nenhuma mágoa profunda e complexa”. E matt Bellamy demonstrou uma sensibilidade absurda ao perceber que é em suas paixões que um individuo mostra resistência contra todo o controle e influência da sociedade em que vive.

Sendo assim, rock’n’roll is our resistance. 

segunda-feira, 28 de maio de 2012

"LOVE" – ou simplesmente "O filme produzido pelo Tom DeLonge baseado nas músicas do Angels and Airwaves"




AVISO:
Este post é livre de gordura Trans e de spoilers.
 

Às vezes quando acordo sinto que ainda estou dormindo, sinto que todas as formas e cores do mundo se colidiram e que tudo que posso fazer é sentar e assistir.
Creio que o coração de uma pessoa se apaga quando não encontra mais razões. Suponho que essa é a razão pela qual a natureza sempre teve uma presença inspiradora, tudo nela tem um propósito.
Acho que estamos nos esquecendo de algo.
Por que lutamos para respirar um ar melhor quando todos acabamos no mesmo lugar?
Espero que valha a pena recordar nossa história. Uma impressão de um esmerado desejo, uma sensação de propósito sincero e um sentimento de esperança em algo maior que nós mesmos.
Nesse momento, talvez eu acorde.


Algumas bandas têm o poder de criar músicas que causam (não me perguntem como) uma espécie de sentimento épico (e é melhor também não me pedir para definir esse “sentimento épico”). Uma dessas bandas é a Angels and Airwaves, banda fundada por Tom DeLonge durante o “hiato indefinido” do Blink 182.

E como se não bastasse causar o sentimento época através de suas músicas, Tom DeLonge resolveu produzir um filme baseado no som do Angels and Airwave.

O resultado desta empreitada de Tom DeLonge como produtor é o filme Love, lançado ano passado.



O filme conta a história do Capitão Lee Briggs e do Capitão Lee Miller. O primeiro Lee luta durante a Guerra Civil Americana e, quando os confederados cercam seu regimento, ele é o único a ser liberado e recebe a missão de escrever um diário, uma espécie de homenagem aos homens que lutaram ao seu lado (o trecho no começo do post é parte deste diário).

Já o segundo é um astronauta que, em 2039, está prestes a deixar a estação espacial e voltar para casa quando algo dá errado e ele fica isolado, sem qualquer comunicação com outro ser humano e sem saber o que é que está acontecendo na Terra.

No decorrer do filme a gente acaba descobrindo que os dois capitães tem uma ligação maior do que simplesmente o nome em comum.

O curioso é que o filme chama Love e conta a história de um homem que viveu os horrores da guerra e de outro que sofre completo isolamento. E, de uma maneira estranha mas eficaz, assistir Love é uma experiência que redefine o “amor” como não algo direcionado a uma única pessoa específica, mas algo compartilhado com toda a nossa espécie (ou pelo menos foi essa a sensação que eu tive quando o filme acabou).

Ah! Dizem que quem avisa amigo é, então aviso logo que Love é aquele tipo de filme para quem gosta de filme (!?). Alguns fãs da banda assistiram o filme por causa da trilha sonora e reclamaram que ele é muito lento. Mas se você tem cérebro e não é daqueles inquietos que não conseguem se concentrar em nada por mais de 5 minutos, a uma hora e vinte do filme passa despercebida.


sexta-feira, 25 de maio de 2012

Feliz Dia da Toalha



AVISO:
Se você sabe o que é o Dia da Toalha, este post não lhe proverá nenhuma informação nova.


Muito além, nos confins inexplorados da região mais brega da Borda Ocidental desta Galáxia, há um pequeno sol amarelo e esquecido.
Girando em torno deste sol, a uma distância de cerca de 148 milhões de quilômetros, há um planetinha verde-azulado absolutamente insignificante, cujas formas de vida, descendentes de primatas, são tão extraordinariamente primitivas que ainda acham que relógios digitais são uma grande ideia.
Este planeta tem – ou melhor, tinha – o seguinte problema: a maioria de seus habitantes estava quase sempre infeliz. Foram sugeridas muitas soluções para esse problema, mas a maior parte delas dizia respeito basicamente à movimentação de pequenos pedaços de papel coloridos com números impressos, o que é curioso, já que no geral não eram os tais pedaços de papel colorido que se sentiam infelizes.
E assim o problema continuava sem solução. Muitas pessoas eras más, e a maioria delas era muito infeliz, mesmo as que tinham relógios digitais.
Um número cada vez maior de pessoas acreditava que havia sido um erro terrível da espécie descer das árvores. Algumas diziam que até mesmo subir nas árvores tinha sido uma péssima ideia, e que ninguém jamais deveria ter saído do mar.
E então, uma quinta-feira, quase dois mil anos depois que um homem foi pregado num pedaço de madeira por ter dito que seria ótimo se as pessoas fossem legais umas com as outras para variar, uma garota, sozinha numa pequena lanchonete em Rickmansworth, de repente compreendeu o que tinha dado errado todo esse tempo e finalmente descobriu como o mundo poderia se tornar um lugar bom e feliz. Desta vez estava tudo certo, ia funcionar, e ninguém teria que ser pregado em coisa nenhuma.
Infelizmente, porém, antes que ela pudesse telefonar para alguém e contar sua descoberta, aconteceu uma catástrofe terrível e idiota, e a ideia perdeu-se para todo o sempre.
Esta não é a história dessa garota.
É a história daquela catástrofe terrível e idiota, e de algumas de suas consequências.

É assim que Douglas Adams começa O Guia do Mochileiro das Gálaxias, primeiro livro da trilogia de cinco livros que conta a história de Arthur Dent, Ford Prefect, Trillian, Zaphod Beeblebrox, Marvin – o andróide paranóide – e suas indas e vindas pelo Universo.

Alguns anos atrás vi o povo alardeando sobre o tal Dia da Toalha, fui ver que raios era isso, me deparei com a trilogia de cinco livros e, obviamente, me tornei fã do trabalho do Douglas Adams.

Como o prefácio do primeiro livro da série diz, desde tempos imemoriais houve menos de meia dúzia de mortais cujas mentes foram capazes de contemplar o universo em sua totalidade, Douglas Adams foi um deles. Ele compreendeu que “uma vez que cada pedaço de matéria no Universo é, de alguma forma, afetado por todos os outros pedaços de matéria do Universo, é teoricamente possível extrapolar a totalidade da criação – cada sol, cada planeta, suas órbitas, sua composição e sua história econômica e social a partir de, digamos, um pedaço de pão-de-ló”. E a grande sacada do Guia do Mochileiro é que o autor faz piada para falar das questões mais profundas e existenciais que assombram a humanidade (ou pelo menos os humanos que fazem uso de seus cérebros), e Douglas Adams consegue fazer isso com uma simplicidade absurda (em seus livros, para voar basta se jogar e errar o chão).

Por tudo isso, os fãs resolveram homenagear o autor declarando o dia de sua morte, 25 de maio, como o Dia da Toalha já que, segundo o Guia, a toalha é a coisa mais útil de todo o Universo.

O Universo é um lugar desconcertantemente grande, um fato que, para continuar levando uma vida tranquila, a maioria das pessoas tende a ignorar”. 

Mas depois de ler O Guia do Mochileiro das Galáxias é impossível voltar a fazer parte da maioria que resolve ignorar a imensidão do Universo.


Feliz Dia da Toalha pra todo mundo  inclusive para quem não é nerd.


terça-feira, 22 de maio de 2012

10 filmes “a realidade da realidade, na realidade, não é real”



AVISO:
Este post contém desorientação, alucinações, realidades paralelas e que não são reais e alguns spoilers dos filmes nele contidos. Mas, na realidade (que não é a realidade, porque a realidade na realidade não existe), são spoilers praticamente inofensivos.

AVISO 2:
Não, eu não me sinto nem um pouco culpada de postar spoilers.

E dito isso estou apta a dizer a barbaridade que eu quiser e bem entender


Sem mais, segue abaixo uma lista com 10 filmes onde a realidade na realidade não é real porque a realidade é bem diferente da realidade.
Apreciem o post (e os spoilers).


Inception
Comecemos pelo óbvio (que, na realidade real, de óbvio não tem nada).
Leonardo DiCaprio entra num sonho, cria lá dentro uma realidade que não é real, dentro desta realidade insere outro sonho e aí insere um nego nesse sonho dentro desta realidade que não é real porque está dentro de um sonho criado pelo Leonardo DiCaprio e que é tipo uma realidade paralela que não é real. Aí ele dá um chute, o sonho desmorona e o peão (da casa própria) roda, roda, roda, faz que vai cair mas não cai, mas podia ter caído e quando termina o filme você vira pra pessoa ao seu lado e pergunta “mas caiu?”.


Matrix
Neo era um hacker que vivia na realidade virtual antes da internet chegar para a maioria dos mortais comuns brasileiros (irônico pensar que quando Matrix foi lançado não existia Facebook, Twitter e nem se quer o coitado do Orkut).
Aí o Neo segue o coelho branco e encontra o Morpheus que oferece pra ele a pílula vermelha, e então ele descobre que a realidade não é a realidade (na realidade ele não é um hacker, ele é tipo uma pilha alcalina humana).
Depois que desplugam o cabo USB de sua nuca e Neo se tornar uma alma livre, ele resolve se replugar na bagaça, desta vez para confrontar a Matrix.
No final são três realidades: a criada pela Matrix onde o Neo era um hacker, a realidade real onde o Neo é careca e come a gororoba branca na nave e a realidade super fudida onde ele usa sobretudo e desvia das balas em câmera lenta.



Sucker Punch
Babydoll (que na realidade deve ter um nomezinho melhor que esse) é uma garota desafortunada que perde a mãe, sofre nas mãos do padrasto que queria a herança da mãe morta, acaba matando sem querer a irmã mais nova e vai parar num hospício.
Dentro do manicômio (e provavelmente graças a algum tarja preta) Babydoll vai parar numa realidade paralela onde ela não está num hospício e sim numa espécie de cabaré. E quando Babydoll dança ela entra numa terceira e super fudida realidade onde ela com uma espada detona robôs, um dragão e autômatos nazistas.
Apesar da complexidade das três realidades se intercalando, na realidade a mensagem do filme, por assim dizer, é bem simples:
            “A realidade é uma prisão, sua mente pode libertá-lo”.


Franklyn
A história acontece simultaneamente em Londres e numa metrópole futurista chamada Meanwhile City – que é governada pela fé e pelo fervor religioso. Preest é um detetive mascarado que tenta vingar a morte de uma menina que ele deveria ter salvado, mas não salvou. Emília é uma estudante de artes com tendência à autodestruição e que tenta de várias maneiras fazer a morte parecer mais artística. Milo é um cara solitário que tenta voltar à pureza do primeiro amor e têm conversas com uma amiga imaginária interpretada pela mesma atriz que faz a artista com tendência à autodestruição. Esser é um pai desesperado que procura seu filho desaparecido pelas ruas de Londres. E no fim as histórias de todos eles estão interligadas e uma bala vai decidir o destino de todo mundo.

E a realidade real é essa aqui: se você ainda não assistiu Franklyn, assista, porque a brisa é muito foda pra caralho porra!


A passagem
Sam Foster é um psiquiatra. Henry Letham é um perturbado que procura o psiquiatra para dizer que vai se matar. E Letham um anagrama de “Hamlet”.
Além de planejar se matar e ter como sobrenome um anagrama de um personagem de Shakespeare, Henry começa a fazer estranhas e terríveis profecias que se realizam e fazem o psiquiatra precisar de um psiquiatra. E no final, é claro, nada é o que parece.
Eu só fui entender o que realmente tinha acontecido na história depois que assisti os extras do DVD de A Passagem, mas altamente recomendo a desorientação que o filme causa.


Repo Men
O filme retrata uma triste e sádica realidade onde as pessoas compram órgãos como quem compra um carro novo (um pâncreas zero km, ouvidos turbinados, um fígado total flex). O problema desta triste e sádica sociedade onde as pessoas compram órgãos como quem compra peças de decoração é que se elas não pagam a prestação direitinho vem um cara e toma o órgão (não importando o quanto de sangue ele tenha que derramar para isso). Quem faz esse trabalho de retirada de órgãos são os Repo Men.
Depois de uma ziquizira toda um dos Repo Men se estrepa inteiro e acaba precisando dos serviços da empresa que ele prestava serviço, e de Repo Man ele passa a comprador de órgão, e de comprador ele passa a inadimplente, e de inadimplente ele passa a fugitivo, e de fugitivo ele passa ao “cara que vai confrontar a corporação que vende órgãos para que não pode pagar por eles”.
No meio dessa jornada de Repo man ao “o cara que vai confrontar a corporação”, a luta contra a triste e sádica realidade deixa de ser a realidade porque a realidade é mais triste e sádica do que parece ser (mas eu não vou dizer mais nada porque até spoilers têm limites).


Donnie Darko
Se você já assistiu este filme, e se você não assistiu sozinho, então você já se deleitou com uma enxurrada de suposições e teorias sobre o perturbado do moleque Donnie, sobre a turbina que deveria esmagar o moleque Donnie e sobre Frank, o coelho macabro, que diz ao moleque Donnie que o mundo vai acabar em 28 dias e algumas horas e alguns segundos.
Recentemente eu descobri que a explicação para a bagaça toda está no livro que o professor do Donnie entrega para ele no começo do filme.
O livro “A filosofia de Viagem no Tempo, escrito pela Roberta Sparrow (é, a velha tinha que chamar Roberta), explica que existe o universo que nós vemos e vivemos nele, o chamado Universo Primordial, e o Universo Tangente, que para efeito prático e “resumitivo” vamos dizer que é criando quando um objeto do nada cai no universo Primordial – tipo uma turbina de um avião. Este Universo Tangente é tipo uma bolha que vai estourar em poucas semanas – tipo 28 dias, 6 horas, 42 minutos e 12 segundos – e ao estourar vai colapsar o Universo Primordial e obviamente acabar com o mundo.
Para deletar o Universo Tangente e salvar o Universo Primordial Donnie precisa devolver ao Universo Tangente o objeto que caiu no Universo Primordial. Então, usando água e metal, ele devolve a turbina de avião para a puta que pariu de onde ela veio, o tempo anda para trás e os 28 dias, 6 horas, 42 minutos e 12 segundos que ele viveu são deletados da linha temporal, porque na verdade eles nunca realmente aconteceram porque eles faziam parte do Universo Tangente que não é a realidade vigente no Universo Primordial.

Entendeu? Não. Então assiste o vídeo.




Contra o tempo
Desta vez o Jake Gyllenhaal não é um moleque com números rabiscados no braço e assombrado por um coelho, agora ele é um militar que acorda no corpo de outro homem e tem a missão de reviver os últimos 8 minutos de vida do homem em que ele acordou no corpo de novo e de novo e de novo na tentativa de salvar Chicago de um trem desgovernado.
8 minutos + 8 minutos + 8 minutos e por aí vai e no final a gente descobre que ele não está no corpo de ninguém e que ele mesmo não tem nem meio corpo.


O gabinete do Dr Caligari
Em 1920, chega num vilarejo expressionista o Dr Caligari, um hipnotizador, acompanhado de Cesare, um sonâmbulo que supostamente estaria adormecido há 23 anos (e foi o 1° a usar franja emo na história do cinema).
O Dr Caligari impressiona o vilarejo de dia, o sonâmbulo Cesare aterroriza o vilarejo à noite e no final a gente descobre que na realidade a realidade não é bem assim, o vilarejo expressionista não existe e é tudo obra de uma mente perturbada.


 2 Coelhos
Embora esteja mais para filme “a realidade na realidade não é o que parece” do que “na realidade a realidade não é real”, este filme está aqui por 2 motivos: primeiro porque eu nunca falo sobre filmes nacionais e este é uma filme nacional que merece ser falado, e, segundo, eu precisava dele para somar “10 filmes que a realidade da realidade, na realidade, não é real”.
Idiotices à parte, neste filme, como minha irmã disse, o roteiro dá um nó de escoteiro e você realiza que a realidade realmente não é o que dava a entender que era: o herói não é herói, a mocinha é uma vadia, o vilão não é quem você pensa ser e que, na real, somos todos vítimas do sistema, mas alguns resolvem explodir as coisas para destruindo reconstruir.

Destaque para as partes em que o carinha “entra” num jogo de videogame e que a mocinha toma tarja preta e mata suas neuras a espadadas.


sexta-feira, 11 de maio de 2012

A RESSACA DE SEGUNDA



AVISO:
Este conto já foi postado antes no blog do Social Rock Club.
Se você o leu lá, ignore-o aqui.

AVISO 2:
É, eu sei que hoje é ainda é sexta, então digamos que eu apenas antecipei a ressaca de segunda.

Sem mais avisos, apreciem a ressaca


 Há quanto tempo ele estava ali? Horas? Dias? Eras? Uma existência inteira? Talvez um pouco menos que isso. Suas mãos estavam incrustadas nos braços daquela poltrona, e havia a suspeita de que suas costas jamais se descolariam do estofado do encosto. Ele não era mais um homem, era simplesmente parte daquela sala.

Vez ou outra vinha um espasmo, como se mãos invisíveis espremessem seu cérebro para lembrá-lo dos abusos cometidos. Entre um espasmo e outro ele concentrava toda a sua atenção em uma mancha escura que se destacava no chão claro.

Vão-se as pessoas, ficam as manchas de cerveja, contrastando com a cor do piso, grudando na madeira dos móveis.

Você enche sua casa de gente quando na verdade tudo o que você queria é que apenas uma pessoa estivesse ali, uma única pessoa que não está entre aqueles que você convocou para preencher o vazio. O som alto é uma tentativa de abafar todas as palavras não ditas. Álcool serve para aplacar a dor que você só sente na sua cabeça. E funciona por um tempo, como se certos momentos tivessem uma lógica própria e exclusiva, enquanto você os vive tudo faz sentido, mas depois... É como se as informações estivessem desconexas, e as explicações e justificativas que você se dá parecem não ter serventia nenhuma. A sensação é a de que aquilo que você viveu não é parte da sua vida, só algo que aconteceu com um estranho e alguém te contou.

Então sobra a ressaca, a baderna que foi deixada pra trás, o cheiro de vômito vindo da pia da cozinha e aquela mancha no chão.

Ele compreendia agora, ele existia junto com aquela mancha. Quando limpassem aquela mancha do chão sua existência seria apagada junto com a sujeira.

Um barulho chamou sua atenção, ele desviou os olhos do chão e se deparou com um homem parado no meio da sala e olhando em volta com uma expressão de desgosto. Demorou alguns segundos para ele reconhecer no homem ostentando a cara feia uma versão de si mesmo, uma versão limpa e sóbria, que provavelmente tinha recorrido a algum analgésico e a algum outro remédio para arrumar o estrago que a bebedeira tinha feito no estômago, uma versão que não gostava do que via, que tinha se forçado a se levantar e seguir andando, alguém capaz de deixar aquela sala.

Sua versão sóbria se aproximou da poltrona onde agora ele habitava, olhou para a mancha no chão e resmungou em desaprovação. Ele sabia o que aquilo significava: no final do dia sua versão sóbria voltaria para casa e limparia aquela mancha, o que por sua vez significava que ele tinha menos de um dia para continuar existindo.

Ele observou sua outra versão ir até a mesa, pegar o relógio e prende-lo no pulso. Sua versão sóbria se importava com o tempo, coisa que para ele já não fazia mais diferença alguma. Em seguida sua versão limpa e funcional levou seu relógio de pulso até a porta da frente, olhou uma última vez com desgosto para o caos que era aquela sala de estar e saiu.

O som da porta batendo reverberou dentro de sua cabeça. Quando a reverberação se dissipou e a tortura teve fim, ele fez a única coisa que o estado em que se encontrava lhe permitia fazer: voltou a encarar aquela mancha no chão, aquela mancha que também era sua existência.