AVISO:
Este conto já foi postado antes no blog do Social Rock Club.
Se você o leu lá, ignore-o aqui.
AVISO 2:
É, eu sei que hoje é ainda é sexta, então digamos que eu apenas
antecipei a ressaca de segunda.
Sem mais avisos, apreciem a ressaca
Há quanto
tempo ele estava ali? Horas? Dias? Eras? Uma existência inteira? Talvez um
pouco menos que isso. Suas mãos estavam incrustadas nos braços daquela
poltrona, e havia a suspeita de que suas costas jamais se descolariam do
estofado do encosto. Ele não era mais um homem, era simplesmente parte daquela
sala.
Vez ou
outra vinha um espasmo, como se mãos invisíveis espremessem seu cérebro para
lembrá-lo dos abusos cometidos. Entre um espasmo e outro ele concentrava toda a
sua atenção em uma mancha escura que se destacava no chão claro.
Vão-se as
pessoas, ficam as manchas de cerveja, contrastando com a cor do piso, grudando
na madeira dos móveis.
Você enche
sua casa de gente quando na verdade tudo o que você queria é que apenas uma
pessoa estivesse ali, uma única pessoa que não está entre aqueles que você
convocou para preencher o vazio. O som alto é uma tentativa de abafar todas as
palavras não ditas. Álcool serve para aplacar a dor que você só sente na sua
cabeça. E funciona por um tempo, como se certos momentos tivessem uma lógica
própria e exclusiva, enquanto você os vive tudo faz sentido, mas depois... É
como se as informações estivessem desconexas, e as explicações e justificativas
que você se dá parecem não ter serventia nenhuma. A sensação é a de que aquilo
que você viveu não é parte da sua vida, só algo que aconteceu com um estranho e
alguém te contou.
Então
sobra a ressaca, a baderna que foi deixada pra trás, o cheiro de vômito vindo
da pia da cozinha e aquela mancha no chão.
Ele
compreendia agora, ele existia junto com aquela mancha. Quando limpassem aquela
mancha do chão sua existência seria apagada junto com a sujeira.
Um
barulho chamou sua atenção, ele desviou os olhos do chão e se deparou com um
homem parado no meio da sala e olhando em volta com uma expressão de desgosto.
Demorou alguns segundos para ele reconhecer no homem ostentando a cara feia uma
versão de si mesmo, uma versão limpa e sóbria, que provavelmente tinha
recorrido a algum analgésico e a algum outro remédio para arrumar o estrago que
a bebedeira tinha feito no estômago, uma versão que não gostava do que via, que
tinha se forçado a se levantar e seguir andando, alguém capaz de deixar aquela
sala.
Sua
versão sóbria se aproximou da poltrona onde agora ele habitava, olhou para a
mancha no chão e resmungou em desaprovação. Ele sabia o que aquilo significava:
no final do dia sua versão sóbria voltaria para casa e limparia aquela mancha,
o que por sua vez significava que ele tinha menos de um dia para continuar
existindo.
Ele
observou sua outra versão ir até a mesa, pegar o relógio e prende-lo no pulso.
Sua versão sóbria se importava com o tempo, coisa que para ele já não fazia
mais diferença alguma. Em seguida sua versão limpa e funcional levou seu
relógio de pulso até a porta da frente, olhou uma última vez com desgosto para o
caos que era aquela sala de estar e saiu.
O som da
porta batendo reverberou dentro de sua cabeça. Quando a reverberação se
dissipou e a tortura teve fim, ele fez a única coisa que o estado em que se
encontrava lhe permitia fazer: voltou a encarar aquela mancha no chão, aquela
mancha que também era sua existência.
eu tava o lendo o texto e achei q já tinha lido...
ResponderExcluiraí q lembrei dos teus "avisos"... e vi q sim, eu já tinha lido e não era um deja vu... rs
mas o texto é foda p/ caralho, porra!!!!!!