“Olho bem para o rosto de Julie. Não apenas isso. Eu o examino. Cada poro, sarda e fio de cabelo fino. E então olho para as camadas abaixo disso. A carne e os ossos, o sangue e o cérebro, indo para baixo até a energia desconhecida que gira em seu núcleo, a força vital, a alma, a poderosa força de vontade que faz com que ela seja mais do que apenas carne, correndo em cada célula e as fundindo aos milhões para formá-la. Quem é essa garota? O que é ela? Ela é tudo. O corpo dela contém a história da vida, relembrada pela química. A mente dela contém a história do universo, relembrada pela dor, alegria e tristeza, ódio, esperança e maus hábitos, cada pensamento de Deus, passado, presente e futuro, relembrados, sentidos e esperançosos, todos de uma só vez.”
O trecho acima é a descrição que um zumbi faz de um ser humano e é do livro Sangue Quente do Isaac Marion.
A história de Sangue Quente é contada por R, um zumbi fã do Frank Sinatra que em uma de suas caçadas a humanos mata e come o cérebro de Perry Kelvin, e com isso acaba tendo visões da vida de sua vítima (no livro de Marion quando os zumbi comem os cérebros eles têm visões das memórias dos donos do cérebro, os zumbis usam o cérebro como uma espécie de alucinógeno). E é através das memórias de Perry que R conhece Julie, namorada de Perry. Sem entender muito bem o que está fazendo ou os motivos que o levam a fazer isso, R impede que outros zumbis ataquem Julie e a leva para o aeroporto onde vive, e sem perceber dá o primeiro passo em busca da sua humanidade perdida.
E falando assim parece que Sangue Quente é uma baboseira no melhor estilho água com açúcar, mas o livro é bem mais do que isso. Enquanto R se apaixona por Julie e se depara com tudo que ele perdeu ao deixar de ser humano, o livro acaba nos forçando a ver o quanto da nossa humanidade estamos suprimindo e nos conduz à pergunta: as pessoas existem, mas elas estão realmente vivas?
E a maneira como Marion escreve a história é um caso à parte.
Em determinado momento do livro, impossibilitado de se expressar devido à péssima dicção dos zumbis, R recorre a uma compilação de músicas do Sinatra em vinil e vai posicionando a agulha do toca-discos nas faixas do vinil, escolhendo as palavras que ecoam em sua mente mas que ele não consegue dizer.
O tipo de coisa que eu queria ter imaginado antes do autor.
Ah é. Na capa de Sangue Quente vem um comentário da autora da série Crepúsculo falando o quanto ela gostou do livro, e (como eu disse no meu texto sobre Muse no Social Rock Club) é mais do que evidente que a série de livros/filmes sobre os vampiros de Stephenie Meyer desperta o ódio na mesma proporção em que angariou fãs ardorosos. Mas você não vai julgar um livro pela capa, vai?
E falando assim parece que Sangue Quente é uma baboseira no melhor estilho água com açúcar, mas o livro é bem mais do que isso. Enquanto R se apaixona por Julie e se depara com tudo que ele perdeu ao deixar de ser humano, o livro acaba nos forçando a ver o quanto da nossa humanidade estamos suprimindo e nos conduz à pergunta: as pessoas existem, mas elas estão realmente vivas?
E a maneira como Marion escreve a história é um caso à parte.
Em determinado momento do livro, impossibilitado de se expressar devido à péssima dicção dos zumbis, R recorre a uma compilação de músicas do Sinatra em vinil e vai posicionando a agulha do toca-discos nas faixas do vinil, escolhendo as palavras que ecoam em sua mente mas que ele não consegue dizer.
O tipo de coisa que eu queria ter imaginado antes do autor.
Ah é. Na capa de Sangue Quente vem um comentário da autora da série Crepúsculo falando o quanto ela gostou do livro, e (como eu disse no meu texto sobre Muse no Social Rock Club) é mais do que evidente que a série de livros/filmes sobre os vampiros de Stephenie Meyer desperta o ódio na mesma proporção em que angariou fãs ardorosos. Mas você não vai julgar um livro pela capa, vai?
@robertagrassi